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domingo, 21 de junho de 2009

curiosidade e lobotomia...

Foi Nietzsche quem comecou a "minar a curiosidade (Wille) do saber através da seducäo (Wille) do poder", afirma Sloterdijk na Critica da Razäo Cinica.

Uma falsa pista que ali é colocada - e este é o preco da polémica, que ela deixa demasiadas pistas faltas. Algumas vezes, no entanto, é só a inumerosidade de falsas pistas que desvela o rectilineo do caminho certo (em outras palavras: só pode haver um caminho certo onde infesta de errados).
A falsa pista de Sloterdijk é a mesma falsa pista que Foucault depositou: que nos bastidores do desejo do saber (Wille zum Wissen, curiosidade) vive um enorme crime, que se deseja disfarcar, ou em terminologia politica: Marx leva forcosamente a Estaline e Mao Tse Tung, e Freud obrigatoriamente à lobotomia.
É a interpretacäo possivel do "Sueno de la razon" de Goya näo como sono (abscencia) da Razäo, mas como o sonhar da Razäo (" o sueno - castelhano para sono e sonho - da Razäo produz monstos" titula o Capricho, precisado pelo próprio Goya num comentário: "A fantasia, abandonada pela razäo, produz monstros impossiveis; unida com ela é a mäe das artes e a fonte dos milagres").
Há de facto uma suposicäo esperta, de que o Sono foi uma ironia goyesca, na verdade Goya estava ciente que o Sonho da Razäo causa maiores danos que o Sono da mesma. A figura de Napoleäo e as atrocidades das cruzadas bonapartitas retratadas por Goya permitem, no minimo, esta interpretacäo. Um pré-estudo de Goya para o Capricho 43 tem por titulo "El idioma universal", um projecto do ilumismo, satirizado por Jonathan Swift nas Viagens de Gulliver (para uma transmissäo um por um - a plena equivalencia - teriamos que ir com uma sacola enorme na proxima tasca para poder insinuar uma chavena de café - queriamos vender a chávena? o café? ou até bebe-lo naquela chavena? ou simplesmente inquirir o preco?).
Estas consideracöes reconduzem à pista primordial, à metaforologia de Blumenberg: há pensamentos (teses, teorias, escolas) que se indepentizam e convertem em propriegade publica de todo um circulo cultural (säo um construto holo-social, a morte do autor). Tanto o Sueno de Goya como o pensamento do Querer para o Saber como curiosidade do Saber, que conduz ao Querer para o Poder-Ser como Desejo do Poder é uma interpretacäo metaforológica.


Notas:
Wille, o querer, o desejo, inclui em alemäo o conceito do "querer", a vontade consciente - coisa esquisita esta -, e o "desejar", algo mais profundo, mais distante, menos eu, mais exogéneo. É um sinonimo da rotacäo continua de todas as coisas - genocidios incluidos? -, a afirmacäo absoluta, para além do Bem e do Mal.
Uma das propostas da traducäo do "Wille zur Macht" nietscheniano foi "vontade de potencia", o que traduz a intencäo mais provável de Nietzsche . Vontade de potencia equivale ao näo temer o possivel (o poder-ser), o eterno regresso: "tudo vai, tudo regressa, eternamente rola a roda do Ser. Tudo morre, tudo floresce novamente, eternamente corre o ano do Ser" (Assim falava Zaratustra).
"Näo acertou na verdade aquele que disparou a palavra do 'vontade do Ser' (Wille zum Dasein): esta vontade - näo existe!
Porque: o que é, näo pode querer; mas aquilo que está no Ser (Dasein, estar-aí), como poderia isto querer ainda ser?
Só onde está vida, está também querer: mas näo querer a vida (Wille zum Leben), mas sim (...) querer o poder (Wille zur Macht, a possibilidade de ser)".

LINKS:
Jorge Luis Borges: El idioma analítico de John Wilkinks

quarta-feira, 11 de março de 2009

a náusea e um suave sorriso...

Fisicamente a náusea realiza-se, quando as paredes do estomago säo irritadas. Acontece que há também emocöes, uma tentativa, de expelir também algo do ambito das posses da alma(...). É um trejeito do afastamento. As caretas significam a condenacäo das imediacöes, um resolver a situacäo no sentido de uma rejeicäo.
Alfred Adler, Conhecer o ser humano
Quando eu, adolescente, li pela primeira - e ultima - vez A náusea de Jean-Paul Sartre (o meu primeiro encontro intectual com a náusea), conseguia pelo menos imaginar essa irritacäo (sensibilizacäo) das paredes do estomago; hoje (também no convivio real com as formas de expressäo humana que causam esse afecto) fica só um sorriso, como suave recordacäo desses tempos e dessa irritacäo do passado.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

a invencäo do eu no amor enquanto paixäo

O amor romantico (o amor enquanto paixäo), aquele das cartas infinitas, dos telefonemas intermenináveis, dos  coracöes derretidos, é um fenónemo da época moderna, diz N. Luhmann.
"Näo é um sentimento, mas um código de comunicacäo, sob cujas regras podemos expressar sentimentos, construir, simular, suspeitar de outrem, negar(...), é um modelo de comportamento, que pode ser representado, que está à nossa vista, antes de embarcarmos partindo em busca do amor".
Amor enquanto paixäo é um "meio de comunicacäo simbolicamente generalizado", que torna provavel uma comunicacäo improvável.
Porquê "comunicacäo improvável"? Porque uma "autentica" comunicacäo é impossivel. O outrem para além do meu eu é infinitamente inacessivel, para além do meu Eu (que nem Freud, nem Marx, nem a mecanica quantica até hoje me conseguiram dizer quem ele é) Ding-an-Sich kantianos sem fim.
O amor enquanto paixao baixa o limiar do "autentico" nessa comunicacäo impossivel, permite uma simulacäo de "autenticidade", ou, nas palavras do proprio Luhmann "as pessoas reduzem o limiar de relevancia no relacionamento entre elas, com a consequencia de que aquilo que é relevante para um é quase sempre também relevante para o outro."
Porquê um "fenómeno da época moderna"  e näo uma constante da condicäo humana, ou uma constante da vida? Porque ali, na burguesia do seculo XVIII se alicerca a diferenciacäo funcional dos nossos dias, em que o individuo se encontra numa "policontexturalidade comunicativa" que dificulta a interacäo germinadora de identidade e inventa o recurso à intimidade, ao amor enquanto paixäo, "disposicöes semanticas que possibilitam apesar de tudo o sucesso de comunicacöes improváveis. 'Posibilitar o sucesso' significa: aumentar a susceptibilidade de comunicacäo de forma que se ousa a comunicacäo näo a abandonando à partida como ilusória".

Näo é o "sentimento" (que é subjectivo e instrasmissivel), mas o código de comunicacäo -o dispositivo semantico gerador de sentido - que é compreensivel, porque objectivavel e historicamente observavel (nas cartas de amor, na poesia, nas literaturas) que é o tema.
Amor enquanto paixäo, o amor dos nossos dias, é o amor passivo, do qual somos "vitimas", o qual näo podemos evitar. O (in-)dividuo que se descobre como ser divido em inumeros papéis, procura a sua identidade (como totalidade, como in-dividuo), cria o seu sentido, baixa o limiar de relevancia, e re-encontra-se, cria-se ou, mais nietzscheniano, inventa-se.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

on the road again...

Alguém me recordou que uma boa razäo para näo curtir o Natal é dada pela hipocrisia que se amontoa em redor dos dias 24/25 de Dezembro. Era o meu ponto de vista e, como alguma vez na vida optei pelo advocatus diaboli (ver as coisas do outro lado, é ver mais das coisas), pensei: e, se extendessemos (estender? extender?) essa hipocrisia a todos os outros dias do ano? Se todos os dias optássemos pelo "deixar para trás", optássemos pela decisäo de colocarmos uma máscara conciliadora em vez de rebater coisas desestruturadas (essa coisa de rebater muito uma questäo acaba por quebrar-lhe a estrutura, ficam questöes sem espinha dorsal, sem porquê - die Rose blüht und sie kennt kein Warum, em portugues: a rosa floresce porque näo tem porquê, recordou Borges - ... estou em recordacöes hoje, está visto).
Entre as muitas coisas da vida que näo teem porquê (digamos assim: se elas tivessem ou tiverem um porque convém a gente ocultá-lo e esquece-lo): o amor e a paixäo, a amizade - tem condicöes a amizade, näo sou amigo de näo importa quem, mas näo tem porquê - e a poesia, a vida.

P.S.
Poderia dedicar esta coisa a um colega e cyber-amigo meu (a propósito dedicar alguma coisa a alguém é compartilhar alguma coisa com alguém, que pode ser um sorriso ou uma lágrima). 

TOPOI:
Sarah Silverman: give the jew girl toys
On the road again:
Robert Putnam: Bowling Alone
George Santayana: "Those who cannot remember the past are condemned to repeat it."

domingo, 31 de agosto de 2008

do quente e do frio e do quente...

OUT OF THE HOT... INTO THE COLD

Cold War, guerra fria.
"O unico meio de libertar completamente o ser humano", afirmava em 1960 Nikita Chruschtow, o sucessor de Estaline no Kremlin, era o caminho do comunismo. John F. Kennedy, na altura presidente dos Estados Unidos, pelo contrário afirmava: "O futuro pertence àqueles que se dedicam à liberdade do individuo".
(Der Spiegel 25/2008)

Um calafrio percorre-me a coluna dorsal ao recordar que houve tempos em que a primeira afirmacäo era mais calentadora ao meu coracäo que a segunda suposicäo.
Näo, que entretanto a "liberdade do individuo" tenha sobreposto em importancia a "libertacäo irresidual do ser humano" (o que de alguma maneira exigiria uma condensacäo pessoal de Freud, Marx e Nietzsche). Acontece simplesmente que na proximidade dos apologistas da "liberdade individual" se vive melhor, mais levemente, mais agradavelmente, que na companhia dos porta-bandeira da "libertacäo irresidual do ser humano". É uma rectrovolucäo de Goya, o iluminista, ao inventar o titulo para o capricho "El Sueno de la Razon produce Muenstros" (o sono - el sueno - da razäo), talvez pressentindo que também o sonho (el sueno) da Razäo virá gendrar monstros na vida.
É, creio, a primeira vez que traduzo (traduzir: näo criar, mas transpor de uma lingua a outra, e o pensamento transposto é um pensamento defunto) um pensamento meu, expresso num outro lugar. É, temo, a influencia da idade. O pensador que se traduz a si mesmo, deixou de pensar.

NOTES:

Gil Evans: Out of the cool
Gil Evans: Into the hot
Der Spiegel 25/2008
Goya: El sueno de la razon produce muenstros

domingo, 27 de julho de 2008

realizando sonhos...

Randy Pausch foi professor de informática na Universidade Carnegie Mellon, USA. Em Agosto de 2007 os médicos haviam-lhe dado tres a seis meses de vida, após detectarem um cancer incurável no pancreas. A 18 de Setembro de 2007 fez a sua "Last Lecture", a ultima aula, geralmente um acontecimento memorável que marca o fim de uma carreira académica.
A Last Lecture de Randy Pausch foi um testemunho, perante um publico universitário, que quiz deixar para a sua esposa e os seus tres filhos - dois, quatro e seis anos de idade, cuja infancia, juventude e adolescencia sabe näo poder acompanhar. Randy Pausch faleceu com 47 anos de idade a semana passada na sua casa em Virginia.
A noticia do seu falecimento está na origem da minha leitura da sua "Ultima Licäo", motivado pela curiosadade de imaginar o que eu faria, se aquela fosse a minha ultima licäo.
Creio mais justo deixar aqui o estrato näo-comentado da Ultima Licäo de Randy Pausch que anotei para incluir no meu próprio testamento:

"when you’re screwing up and nobody’s saying anything to you anymore, that means they gave up. And that’s a lesson that stuck with me my whole life. Is that when you see yourself doing something badly and nobody’s bothering to tell you anymore, that’s a very bad place to be. Your critics are your ones telling you they still love you and care."

"Quando tudo te sai mal e ninguém mais te repreende, significa que te abandonaram. (...) A questäo é que quando te deparas perante ti mesmo fazendo coisas menos boas e ninguém se dá ao trabalho de dizer-te-lo, é porque estás realmente num local muito mau. Os teus criticos säo aqueles teus dizendo-te que ainda gostam de ti e se interessam"
Randy Pausch, Really Achieving Your Childhood Dreams


MATERIALS:
Transcripcäo original da Last Lecture
http://download.srv.cs.cmu.edu/~pausch/Randy/pauschlastlecturetranscript.pdf

A Last Lecture no youtube
http://www.youtube.com/watch?v=ji5_MqicxSo

Experience is what you get, when you do not get what you want.
Randy Pausch

quarta-feira, 9 de julho de 2008

o numero de inimigos...

Li algures «molti nemici molto onore» (muitos inimigos, muita honra). É, exactamente como constava nesse tal algures - conferi isso numa página sobre Il Duce, Benito Mussolini - um lema fascista. Sem aspas (no algures, o senhor dizia que era "fascista" - com as aspas, claro). Bem, encontrei aí também uma "costela marxista" e umas reflexöes sobre consciencia de classe, etc., que foi precisamente com essa conjugacäo que engracou a minha curiosidade.
Diz Nietzsche em algum lugar que os inimigos dignificam, mas o lema fascista näo me soa nietzscheniano, muito pelo contrário, soa-me mesmo a fascismo (aqui também sem aspas) na sua pior denotacäo, como a descrita em 1900 do Bertolucci.
Tentando uma interpretacäo rápida: o lema de Mussolini foca a quantidade - há uma proporcionalidade directa entre o numero de inimigos e o o valor da honra, quantos mais inimigos mais digno o acto (de aqui o Bertolucci), é o crime pelo crime; o lema nitzscheniano foca a qualidade: näo é o numero de inimigos que é significante, näo é a quantidade, mas sim a qualidade que repercute sobre a dignificacäo. Há fulanos, e a grande maioria dos candidatos entram nesta categoria, que näo merecem ser meus inimigos. Há que merecer-se os seus inimigos também (e, desconfio que seja mais dificil merecer a inimizade de alguém que a sua amizade).
E há um farolito ali a chamar a minha atencäo para algo mais. No elan revolucionário, enquanto o movimento näo é ainda instituicäo, confunde-se com frequencia o numero de inimigos com a veemencia com que se abanica o estandarte da justica (Robespierre, Trotzky), teem sorte os conservadores.

Carlos Aguilar


o algures (MATERIAIS & LINKS ABANDONADOS):
http://estadocivil.blogspot.com/
http://www.ilduce.net/duce.htm

domingo, 6 de julho de 2008

sobre algumas dificuldades em adquirir a felicidade por encomenda...

Escutei em diversos lugares "passem bem", "sejam felizes". Como väo digiridos a uns tantos, porque é isso que nos ensina a concordancia gramatical, näo sei se é uma "passagem de bem" e uma felicidade a serem repartidas pelos destinatários, ou se se tratará mais de uma bem-passagem e felicidades sem volume, incomensuráveis, da mesma forma que se diz de um rio que leva água e näo se espera que a água que o rio leva algum dia se esgote.
Incomoda-me o imperativo, o "sejam!" e o "passem!", por trás dos quais sempre se vislumbra um ar sério, uma face imposante, acompanhados de um olhar expressivo e autoritário. Entäo, e se eu quizer a felicidade só para mim? Ou, se eu näo quizer ser feliz? Recordo que näo sei em que país islamico o suicidio consta no Código Penal que poderá ser punificado com pena de morte. Bem, há felicidades e há felicidades, a verdade seja dita, e aqui até que a justica tem algo de justo. Como geralmente säo expressos em tom de voz elevado os "SEJAM FELIZES!!!" e "PASSEM BEM!!!", assusto-me constantemente, dou logo um pulo da cadeira, e fica um exagero de adrenalina no meu sistema hormonal, que necessita de tres voltas pelo quarteiräo que inclui entre outras a minha casa.
Bem, tenho uma teoria: que esses votos aparentemente bem intencionados, nem sequer a aparencia de bem intencionados querem adquirir. E que o "Sejam felizes!" significa "sem mim", o equivalente a um "Vai à vida, pá!"
Ou, colocando a questäo em termos mais filosóficos ("Filosofia é quando se ri" dizia Blumengerg, "e ri-se por falta de juizo"): Arthur Schopenhauer publicou num pequeno tratado intitulado "Dialéctica Eristica - A arte de sempre ter razäo" 38 truqes de como atingir essa finalidade. Diz-se que, origináriamente Schopenhauer havia querido prever um epilogo logo na primeira edicäo, mas que se convenceu que era um aviso redundante, porque haveria sómente duas leituras possiveis, uma leitura sarcástica, acompanhada de um sorriso permanente e uma leitura insensata, que necessitaria dos 38 truques para simular a sensatez. Desde entäo ambas as fracöes atiram-se com "passem bens" e "sejam felizes".
P.S.
Eris foi a Deusa da disputa grega (a Discórdia romana), filha de Nyx, Deusa da Noite (e da noite e do caos nasceu o dia). De Eris canta Homero na Iliada: "O que ela alguma vez haja comecada näo pode jamais abandonar. O seu pequeno vulto ergue-se para um tamanho e beleza gigantescos". E, como da beleza nasceu o Amor, também os inimigos (os idolatrantes da Discórdia) teem que se merecer! (Näo sei de onde eu roubei isto, mas a sua poesia näo pode evidentemente ser - só - minha.)

domingo, 22 de junho de 2008

também o mundo...

Ghulam Haider, onze anos de idade, com o seu futuro marido Faiz Mohammed, 40 anos, no Afganistäo. Ghulam houvera querido ser professora.

Uma foto de Stephanie Sinclair (USA), da sua reportagem The Bride Price: Child Marriage Around The World (O Preco da Noiva: Casamento Infantil Pelo Mundo Afora). Milhöes de mocinhas säo casadas forcosamente em idade infantil. Esta foto foi elegida pela UNICEF como foto do ano de 2007.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

NICHOLSON BAKER: Este sentimento de um tormento interior

Quando se pressupöe o melhor dos seres humanos e se lhes oferece confianca, talvez sejamos lubrididados algumas vezes, mas é também frequentemente nesses momentos que os seres humanos däo o seu melhor(...).
Se aprendermos a recordar-nos com mais precisäo, corremos entäo menos perigo de repetir o passado.
Nicholson Baker: Este sentimento de um tormento interior, Der Spiegel 19/2008, a propósito da publicacäo de "Human Smoke", uma crónica sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Quatro 33

"Have i said anything that would lead you to think that i thought you are stupid?"
John Cage

Disse alguma coisa que o levou a pensar que eu pensava que voce é estupido?

4´33´´

Quatro 33 é o nome de uma obra de John Cage executada pela primeira vez num piano em 1952 e transmitida por rádio em Janeiro de 2004 pela Orquestra Sinfonica da BBC no Barbecan Hall em Londres. É uma peca em tres movimentos que, contrariamente ao que o titulo insinua, näo tem tempo (nem numero de instrumentos) pré-estabelecido embora hoje se respeite geralmente essa duracäo.
Cada movimento da partitura consiste numa unica ordem - Tacet - que no latim significa ele/ela silencia, e indica ao respectivo instrumento pausar até ao fim do trecho actual.
Por mais que todos os executantes da peca näo utilizem os seus, é uma peca com sons. Essa era a verdadeira intencäo de John Cage: focar a atencäo para os sons que nos rodeiam e que usualmente näo percebemos, nas palavras do próprio: "The material of music is sound and silence; integrating this is composing. I have nothing to say and I am saying it" (O material da musica é som e silencio; integrar estes é compor. Näo tenho nada para dizer e estou dizendo-lo).
Mike Batt, um musico pop actual, tentou superar 4´33´´ com o seu A One Minute Silence (Um Minuto de Silencio), alegando que esta era "uma obra silenciosa muito melhor" porque fora "capaz de narrar em um minuto aquilo para que Cage necessitara 4 minutos e 33 segundos". Posteriormente, em 2002, Batt pagou uma elevada indemnizacäo aos herdeiros de John Cage por alegado plagiato subscrevendo uma obra própria sob a sigla Batt/Cage.
Poderia considerar-se John Cage como o máximo minimalista. A musica minimalista tenta atingir o maior efeito repetindo e variando um padräo minimo de sons, como se a melodia progredira aos "trambolhöes" ou em "solucos", audivel nas composicöes de Erik Satie.

A versäo para piano



A versäo orquestrada da BBC





Materials & Left Links
John Cage: In The Name Of The Holocaust, 1942
http://news.bbc.co.uk/1/hi/entertainment/music/3401901.stm
0'00" que näo é mais executado numa sequencia temporal e se realiza simplesmente no programa; a sua execucäo näo é mais perceptivel.
H. Blumenberg: Die Vollzähligkeit der Sterne
4´33´´ http://de.wikipedia.org/wiki/4%2733%22
Eric Satie http://de.wikipedia.org/wiki/Erik_Satie
Minimalmusik http://de.wikipedia.org/wiki/Minimal_Music

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Introduzindo Lenny Bruce "em substancia"

Uma pequena homenagem ao trabalhador de construcäo civil, "tired, honest, a bottle of beer in his left hand" (chegado ao país que sempre foi o seu) em Nova Yorque, que nunca logrei ser.

Escreveu John dos Passos (näo me hei decido até hoje por escrever a copula entre prenome e nome, o "DOS", com minuscula ou com maiuscula, como se a grafia repercutara sobre a personalidade que insinua, ou à qual refefe - dos Passos seria uma versäo alusitanada, que näo é correcta, porque é um autor americano, Dos Passos uma versäo americanizada, que também näo seria plenamente correcto - na hora da sua ultima despedida, ao envelher, quiz regressar às raizes e publicou a sua The Portugal Story - e eu opto pela näo decisäo, uma pequena homenagem a essas singelas raizes)... escreveu este dos Passos em 1957 um pequeno catálogo intitulado The Men Who Made the Nation (Os homens que fizeram a nacäo) que o tradutor alemäo optou por denominar: Amerikanische Porträts. Erfinder /Präsidenten /Rebellen (Retratos americanos: Inventores / Presidentes / Rebeldes)...
Se me encarregarem de escrever o segundo tomo desse catalogo elegirei exactamente o mesmo titulo "Aqueles que fizeram a nacäo", na versäo alemä alteraria no entanto algo, (Retratos americanos: Rebeldes / Inventores /Presidentes ...).
E, entre aqueles que fizeram a "nossa" Nacäo, terá especial mencäo certamente Lenny Bruce, um dos grandes "rebels". Por uma unica razäo, morreu defendendo a palavra, mais precisamente defendendo a näo-omissäo da palavra, ou em seus proprios termos: I was just trying to make a point, and that is that it's the suppression of the word that gives it the power, the violence, the viciousness (simplesmente tentei fazer o ponto da questäo, ou seja, que é a supressäo da palavra que lhe dá a sua forca, a sua violencia, a viciosidade).
Materiais & Left Links
Aqui, alguns achados de e sobre Lenny Bruce
“If Jesus had been killed twenty years ago, Catholic school children would
be wearing little electric chairs around their necks instead of crosses.” Lenny Bruce

Se Jesus tivesse sido matado vinte anos atrás, os alunos
católicos usariam cadeiras elecctricas em vez de cruzes em torno do seu
pescoco.

Lenny Bruce declares a truce and plays the other hand

Lenny Bruce insinua uma astucia e joga a outra mäo
Genesis: The lamb lies down on Broadway




MATERIALS & LEFT LINKS:

A Jew, in the dictionary, is one who is descended from the ancient tribes of
Judea, or one who is regarded as a descendant from that tribe. That's what it
says in the dictionary, but you and I know what a Jew is: One Who Killed Our
Lord... there should be a statute of limitations for that crime.
I
n Lenny Bruce Without Tears, 1972

Um judeu, num dicionário, é alguem que é descendente das tribos
antigas de Judeia, ou alguém que é visto como um descente desta tribo. Isto é o
que o dicionário diz, mas voces e eu, sabemos o que é um judeu: é alguém que
matou Nosso Senhor... deveria haver uma lei de limitacöes para esse
crime.

The Lenny Bruce Trials: http://www.law.umkc.edu/faculty/projects/ftrials/bruce/bruce.html

The Lenny Bruce FBI Act: http://www.fadetoblack.com/foi/lennybruce/

When you are eight years old, nothing is any of your business
Lenny Bruce about me, 1966

" It doesn't matter even if you're Catholic; if you live in New York
you're Jewish. If you live in Butte, Montana, you are going to be goyish if
you're Jewish." Lenny Bruce

Näo importa se até és católico; se vives em Nova Yorque és judeu. Se vives em Butte, Montana, vais ter que ser goi.

http://www.kirjasto.sci.fi/lbruce.htm

Lenny Bruce, by Bob Dylan:

Lenny Bruce is dead but his ghost lives on and on

Never did get any Golden Globe award, never made it to Synanon.
He was an outlaw, that's for sure,
More of an outlaw than you ever were.
Lenny Bruce is gone but his spirit's livin' on and on.
Maybe he had some problems, maybe some things that he couldn't work out
But he sure was funny and he sure told the truth and he knew what he was talkin' about. Never robbed any churches nor cut off any babies' heads,
He just took the folks in high places and he shined a light in their beds.
He's on some other shore, he didn't wanna live anymore.
Lenny Bruce is dead but he didn't commit any crime
He just had the insight to rip off the lid before its time.
I rode with him in a taxi once, only for a mile and a half,
Seemed like it took a couple of months.
Lenny Bruce moved on and like the ones that killed him, gone.
They said that he was sick 'cause he didn't play by the rules
He just showed the wise men of his day to be nothing more than fools.
They stamped him and they labeled him like they do with pants and shirts,
He fought a war on a battlefield where every victory hurts.
Lenny Bruce was bad, he was the brother that you never had.
Copyright © 1981 Special Rider Music

Are There Any Niggers Tonight

Are there any niggers here tonight? Could you turn on the house lights, please, and could the waiters and waitresses just stop serving, just for a second? And turn off this spot. Now what did he say? "Are there any niggers here tonight?" I know there's one nigger, because I see him back there working. Let's see, there's two niggers. And between those two niggers sits a kike. And there's another kike— that's two kikes and three niggers. And there's a spic. Right? Hmm? There's another spic. Ooh, there's a wop; there's a polack; and, oh, a couple of greaseballs. And there's three lace-curtain Irish micks. And there's one, hip, thick, hunky, funky, boogie. Boogie boogie. Mm-hmm. I got three kikes here, do I hear five kikes? I got five kikes, do I hear six spics, I got six spics, do I hear seven niggers? I got seven niggers. Sold American. I pass with seven niggers, six spics, five micks, four kikes, three guineas, and one wop. Well, I was just trying to make a point, and that is that it's the suppression of the word that gives it the power, the violence, the viciousness. Dig: if President Kennedy would just go on television, and say, "I would like to introduce you to all the niggers in my cabinet," and if he'd just say "nigger nigger nigger nigger nigger" to every nigger he saw, "boogie boogie boogie boogie boogie," "nigger nigger nigger nigger nigger" 'til nigger didn't mean anything anymore, then you could never make some six-year-old black kid cry because somebody called him a nigger at school.
Lenny Bruce

quinta-feira, 24 de abril de 2008

TAYLOR BRANCH - The Last Wish of Martin Luther King

New York Times April 6, 2008
OP-ED CONTRIBUTOR
O Ultimo Desejo de Martin Luther King
De TAYLOR BRANCH

Quarenta anos atrás, no dia 31 de Marco na National Cathedral, o Reverendo Dr. Martin Luther King Jr. apresentou o que viria a ser o seu ultimo sermäo dominical, a caminho de retorno para Memphis. Nessa mesma noite em 1968, o Presidente Johnson chocou o mundo anunciando näo intencionar tentar a sua reeleicäo.
Era eu Senior no College. A minha mäe estava de visita quatro noites mais tarde, quando todas as conversas paralizaram subitamente num restaurante bem frequentado. Um empregado de mesa havia sussurrado que Dr. King havia sido assassinado.
Direitos civis, Vietnam, Dr. King, Mempis - estas säo marcos historicos. Mesmo assim, este ano é um pente divisorio. Porque o Dr. King sómente viveu 39 anos, a partir de agora, ele haverá ter partido há mais tempo que o qual viveu entre nós. Duas geracöes entreviram as luzes desde Memphis.
Isto näo significa que o nosso compreendimento seja perspicaz ou completo. Uma certa quantia de glosa e mitologia é inevitavel para as grandes figuras, sejam elas George Washington deitando abaixo uma cerejeira, Honest Abe abrindo um trecho ou o Dr. King pregando um sonho de igualdade na cidadania em 1963. Muito para além disso, de todas as formas, encaixamos o Dr. King e a sua era num mito penetrante, falso à nossa heranca e perigoso para o nosso futuro. Distorcemos a nosa completa cultura politica para iludir as licöes da era de Martin Luther King.
Ele avisou-nos pessoalmente. Quando chegou ao pulpito naquele domingo 40 anos atrás, Dr. King adaptou um dos seus sermöes standard, “ Permanecendo desperto durante a Grande Revolucäo”. Da alegoria de Rip Van Winkle, ele narrou de um homem que caiu em sono profundo antes de 1776 e acordou 20 anos mais tarde num mundo cheio de estranhos costumes e vestuarios, um vocabulário completmente novo e uma preocupacäo mistificante com o commoner George Washington mais que que com o Rei George III.
Dr. King pediu à sua audiencia para näo adormecer durante os gritos continuos da humanidade pela liberdade. Quando os antigos Hebreus lograram a miraculosa liberacäo do Egipto, muitos desejavam regressar.. As chicotadas familiares do faraó pareciam preferiveis aos convenios de Moises, e assim os hebreus caminharam pela wilderness. It took 40 years to recover their bearings. Dr. King partiu há 40 anos, mas ainda dormimos sob a custódia do faraó. É tempo de acordarmos.
Dr. King estava em Memphis manifestando em apoio aos trabalhadores dos servicos sanitários. Dois deles, Echol Cole and Robert Walker, haviam sido esmagados num acidente de trabalho: as normas municipais interdiam aos seus empregados negros de proteger-se da chuva em outro lugar que näo fosse a traseira do compressor dos seus tractors, junto com o lixo. Mas expoliacäo havia partido da manifestacäo do Dr. King, pela primeira vez.
Quando ele se apresentou em Washington aquela manha de domingo era dificilmente o brindedos Estados Unidos. ‘Os cabecalhos em Memphis apelidavam-lhe “Frango à la King,” acusando-o de haver fugido da sua propria batalha.. O St. Louis Globe-Democrat denominou Dr. King “um dos homens mais ameacadores da America actual,” e publicou uma caricatura de um arauto de olhos selvagens portando uma pistola no meio de uma nuvem de fumo com o texto de “näo estou disparando com ela – somente estou a puxar o gatilho”.Assim, o Dr. King ficou no pulpito, um homem marcado, desprezado e reprendido, pleno de conflitos interiores. No entanto, como sempre, ele elevou a esperanca das profundezas da sua alma. Exortou a congregacäo para ficarem vivos e despertos às grandes revolucöes em progresso. “Eu digo-vos que a nossa meta é a liberdade”, gritou, “e acredito que vamos chegar lá porque – por näo importa quanto ela esteja extraviada — a meta da America é a liberdade!”
Encontramo-nos perante assustadores precedentes na historia. A nossa nacäo dormiu durante decadas sob o enunciar de mitos fundados na raca. Cresci, sendo ensinado que a Guerra Civil era sobre federalismo näo sobre a escravidäo. Os meus manuais escolares usavam inclusivamente um termo religioso, os “redentores”, para descrever os politicos que haviam reestabelecido a supremacia branca com o terrorismo do Ku Klux Klan nos finais do século XIX. O Hollywood modern foi fundado na forca (com cedilha) emocional deste mito, como retratado em “O nascimento de uma nacäo”. As forcas progressivas advogavam a hierarquia racial com uma falsa ciencia de Eugenia.
Mais que uma vez, a cultura dominante deu uma reviravolta na historia para se sentir mais confortavel. E quando um movimento de direitos civis surgiu da franja de criadas e de caseiros, tornando näo respeitavel defender a segregacäo racial, vozes ofendidas acomodaram-se novamente para amaldicoar o governo como agente da calamidade generalizada. Pintámos a era do Dr. King’s como uma época sem objectives, permissäo desenfreada, com os hippies freneticamente despistados
O lema do discurso politico degenerou de “movimento” para “rodopio”. Na era do Dr. King a palavra “movimento” tornou-se de uma inspiracäo pessoal para saltos de fé (leaps of faith), e depois de descoberta e sacrificio partilhados para luta a pela ascencäo, proliferando movimentos aparentados até grandes hostes de Selma ao Muro de Berlin podiam sentir o movimento da historia (¿??).
Agora temos “rodopio” (“spin”) a substituir, sugerindo que näo há direcionamento real na aposta do debate politico (stake from political debate), nem alguma consequencia com a excepcäo dos participantes no jogo. Tal linguagem abraca o cinismo, reduzindo politica a entretimento.
O equilibrio democratico manteve-se dormido durante 40 anos, e encontramo-nos perante um mundo como Rip Van Winkle correndo para o passado. Acordamos pestanejando para Tiger Woods, Condoleezza Rice e Barack Obama, enquanto o nosso governo exige uma regra arbitraria através de sigilo, conquista e calabouco. Rei George III parece renascido.
Resista-se por favor a qualquer conotacäo partisa (partisan). O nosso problema é extremamente enorme para tal. De facto, penso que o desafio mais acuto para os admiradores do Dr. King consiste em reconhecer a nossa propria complicidade nos mitos sufocantes sobre a historia dos Direitos Civis. Aliados desgastados (battered, long-suffering) do Dr. King desfizeram-se dele como um moderado cansado, muito antes da campanha reacionária convertendo a palavra “liberal” num beijo de morte para os candidatos por todo o pais. Da mesma forma, as forcas chamadas radicais e militantes voltaram-se contra os governos liberais por ter sido tomado tanto tempo a responder à justice racial, mais tarde à Guerra do Vietnam. Só a convergencia da esquerda e da direita politica pode causar täo tal duradoura erosäo pela promessa do governo livre ele mesmo (??).
Muitos dos companheiros mais achegados do Dr. King rejeitaram o seu cometimento (commitment ) à näo violencia. O movimento pelos Direitos Civis criou ondas de história enquanto (so long as) ficou näo-violento, depois parou. Discutivelmente, o instrumento mais poderoso na reforma democratica foi o primeiro a tornar-se passé. Esvaneceu entre intelectuais, nos campus universitários e nas ruas. Hoje em dia, quase ninguém pergunta porquê.
Temos que reclamar de a leque completo de bencäos do seu movimento. Para o Dr. King, a raca (competicäo??) estava na maioria das coisas, mas por si só näo definia nada. O seu apelo estva enraizado no contexto mais abrangente de näo-violencia. A sua intencäo determinada foi sempre redimir a alma da America. Colocou um pé na Constituicäo e o outro na Escritura. “Ganharemos a nossa liberdade”, disse muitas vezes, “porque a heranca da nossa nacäo e a vontade eterna de Deus estäo incorporadas no eco das nossas preces” (echoing demands). Ver Dr. King e os seus colegas como algo menos como fundadores modernos da democracia – mesmo como curadores raciais e reconciliadores – é diminui-los sob o lema do mito.
Dr. King dizia que o movimento liberaria näo somente as gentes negras segregadas mas como também o Sul branco. Certamente que isto está correcto. Nunca se ouviu falar do Sun Belt (cinturäo do sol) quando o Sul era segregado. O movimento espalhou-se prosperamente numa regiäo préviamente inadaptada até para equipes de desporto profissional. O meu Mayor (presidente da camara) em Atlanta durante a era dos Direitos Civis, Ivan Allen Jr., disse que logo que a Emenda dos Direitos Civis (civil rights bill) foi assinada em 1964, nós contruimos um estádio de baseball em terreno que näo possuiamos, com dinheiro que näo tinhamos, para uma equipe que näo tinhamos encontrado, e rapidamente encantaram os Milwaukee Braves. Miami organizou uma equipe de football chamada The Dolphins.
O movimento também de-estigmatizou os politicos brancos do Sul, criando a competicäo bi-partidária. Abriu as portas aos descapacitados, e comecou a liberar medos dos homosexuais antes da nocäo moderna de “gay” estivera em uso. Durante 2.000 anos de Judaismo rabinico näo se pensou muito sobre rabbis femeninos, mas a primeira ordenacäo sucedeu pouco depois do movimento ter lancado luz fresca sobre o significado de almas iguais. Hoje näo pensamos nada sobre rabbis e cantadores feminino e, sim, padres episcopais femininos e bispos, com os seus colegas de cada backgroud (¿). Pais actuais tomam como mercê oportunidades que os seus filhos herdaram do boicote dos autocarros de Montgomery.
É simultaneamente direto e politica (¿) para toda a gente, incluindo milhöes que säo benignos o indiferentes ao movimento pelos Direitos Civis, ou viläo e ressentido, para ver que eles, também, e os seus herdeiros, estäo a nosso lado sobre os ombros de Rosa Parks, Medgar Evers e Fannie Lou Hamer.Dr. King mostrou mais profundamente que num mundo interdependente, a forca duradoura cresce contra o gräo de violencia, näo com ele. Tanto a guerra fria como o apartheid Sul-africano terminaram com os esforcos (ended to the strains of ) do “We Shall Overcome”, desafiando todas as preparacöes para Armageddon. O movimento dos Direitos Civis fica um modelo para a nova democracia, tristemente negligado no seu proprio local de nascimento. Em vez disso, no Iraque actual, estamos fascinados pelo modelo Vietnam. (¿) Näo há campo mais saliente ou descuidado de estudo, que o das relacöes entre poder e violencia.
Recumos perante a näo-violencia sendo a nossa responsabilidade(¿). Dr. King viu-lo claramente no coracäo da democracia. A nossa nacäo é uma enorma catedral de votos – botos näo somente para o Congresso e para o presidente, mas também votos nas decisöes do Tribunal Supremo e de inumeros juris (conjuntos de jurados?). Os votos governam as comissöes tanto das grandes empresas (corporacöes?) como das minusculas caridades. Visivel- e invisivelmente, tudo corre pelos votos. E cada voto näo é nada mais, senäo uma peca de näo-violencia.
PORTANTO que deveriamos fazer, agora que passaram 40 anos? Como restaurar a nossa cultura politica de rodopio (Spin?) para movimento, de confusäo para intencäo? Temos que aproveitar as oportunidades (take leaps?), inquirer questöes, estudar a näo-violencia, reclamar a nossa historia.
O que o Dr. King prescreveu no seu ultimo sermäo dominical comeca com a narracäo de Lazarus e Dives (?) do decimo-sexto capitulo de Lucas. Dito inteiramente da boca de Jesus, é uma historia em que figura Abraham, o patriarca do Judaismo, colocado no depois da morte. Näo há nada similiar na Biblia.
Dr. King adorava esta parabola como o texto para um sermäo enfabulado de Vernon Johns, o seu antecessor na Dexter Avenue Baptist Church em Montgomery. Lazarus era uma mendigo coxo que entäo implorava despercebidamente nos exteriores dos jardins sumptuosos de um homem rico chamado Dives. Ambos morreram, e Dives olhando do tormento par ver Lezarus, o mendigo, em seguridade no seio de Abraham. A parte restante da parabola é um argumento entre Abraham e Dives, falando para cá e para lá, do céu para o inferno.
Dives primeiramente pediu Abraham para “enviar Lazarus” com agua para refrescar os seus labios ardentes. Mas Abraham disse que havia um “enorme abismo” entre eles, o qual nunca poderia ser superado. No seu sermäo, o Dr. Johns estabeleceu uma coneccä entre abismo e segregacäo.
Mas, de acordo com Dr. Johns, Dives nä estava no inferno por ter sido rico. A sua riqueza ficava muito aquém daquela de Abraham, um dos homens mais vigorosos da antiguidade, o qual estava ali, no paraiso. Nem täo pouco estava Dives no inferno por näo ter havido enviado esmolas a Lazarus. Ele estava ali por nunca haver reconhecido Lazarus como um ser humano. Mesmo em face do veredicto eterno, falava somente com Abraham e olhava por cima do mendigo, tratando-o ainda como um servidor na terceira pessoa ¬¬– “envia Lazarus”.
Os sermöes de Dr. King extraiam mais camadas desta parabola. Ele disse que temos aceitar o homem rico sofrendo näo como um pecador normal e nauseabundo. Quando lhe foi recusada agua para ele mesmo, preocupou-se imediatamente sobre os seus cinco irmäos. Dives pediu a Abraham novamente para enviar Lazarus, desta vez como mensageiro para avisar os seus irmäos sobre os seus pecados. Diz-lhes que sejam gentis com os mendigos do outro lado do muro. Faz algo, por favor, assim eles näo terminarem aqui também, como eu.
Dr. King disse que Dives era um liberal. Apesar do seu proprio destino, queria ajudar os outros. Abraham rejeitou este pedido também, dizendo a Dives que os seus irmäos já tinham amplos avisos na lei da Torah e nos profetas hebreus. Ainda Dives persistiu, dizendo näo, Abraham, tu näo entendes – se os irmäos vissem alguém realmente vir da morte e preveni-los, entäo eles compreenderiam.
Jesus refere-se a Abraham dizendo näo. Se os irmäo näo aceitam o ensinamento central da Torah e dos profetas, näo acreditariam täo pouco um mensageiro ascendido da morte. Dr. King disse que esta parabola de Jesus elimina as diferencas entre o Judaismo e a Cristandade. A licäo por trás de qualquer teologia é que temos que agir em direcäo de toda a criacäo no espirito de alma iguais e votos iguais. A alternativa é o inferno, o qual Dr. King algumas vezes definiu como a dor que infligimos a nós mesmos refusando a graca divina.
Dr. King entäo regressou a Memphis para ficar com os trabalhadores pisados, com as familias de Echol Cole e Robert Walker. Talvez tenhais visto os placards (posters?) da greve de sanitários (sanitation?), que leem “Eu sou um ser humano”, siginificando näo um peca de lixo para ser esmagado e ignorado. Para o Dr. King, a resposta era um apelo patriotico e profetico. Ele exorta cada um a encontrar um Lazarus algures, das nossas prisöes apinhadas ate às terras sangrentas. Esta busca no comum converte-se a faisca de movimentos sociais, e é portanto o engenho da esperanca.

Taylor Branch é o autor, mais recentemente, de “Na borda de Canaan”, o terceiro volume da sua historia da era moderna de Direitos Civis. Este artigo é uma adaptacäo de um discurso proferido na Segunda-feira na National Cathedral.

ALGUMAS NOTAS:
Selma: uma pequena cidade, cerca de Montgomery, onde o movimento pro Civil Rights logrou, após umas quantas peripécias e tres mortos, a insercäo incondicional dos negros nas listas eleitorais.
Honest Abe: Cognome dado a Abraham Lincoln, presidente dos EU 1860-68, adversário da escravidäo
Sharecropper: aquele que aluga um terreno em propriedade alheia e entrega uma parte dos beneficios da mesma ao seu proprietário
Gay: “veado”, termo simpatico para designar “homosexual”

Nota pessoal:
Taylor Branch foi condecorado com o Pullitzer Price for History em 1988. Por mais que uma condecoracäo näo seja etiqueta de qualidade, talvez ela ajude a propagar a leitura do elucidativo texto (depois das correcöes prometidas). Que me perdoe o Richard Dawkins por esta minha fraquezazita aqui, mas a questäo aqui, neste momento, neste site é uma outra que a do “God´s Delusion”
Carlos Aguilar


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New York Times April 6, 2008
OP-ED CONTRIBUTOR
The Last Wish of Martin Luther King
By TAYLOR BRANCH
FORTY years ago on March 31, at the National Cathedral, the Rev. Dr. Martin Luther King Jr. delivered what would be his last Sunday sermon, on his way back to Memphis. That same night in 1968, President Johnson shocked the world by announcing that he would not seek re-election.
I was a senior in college. My mother was visiting four nights later when all conversation suddenly hushed in a busy restaurant. A waiter whispered that Dr. King had been shot.
Civil rights, Vietnam, Dr. King, Memphis — these are historic landmarks. Even so, this year is a watershed. Because Dr. King lived only 39 years, from now on, he will be gone longer than he lived among us. Two generations have come of age since Memphis.
This does not mean that our understanding is accurate or complete. A certain amount of gloss and mythology is inevitable for great figures, whether they be George Washington chopping down a cherry tree, Honest Abe splitting a rail or Dr. King preaching a dream of equal citizenship in 1963. Far beyond that, however, we have encased Dr. King and his era in pervasive myth, false to our heritage and dangerous to our future. We have distorted our entire political culture to avoid the lessons of Martin Luther King’s era.
He warned us himself. When he came to the pulpit that Sunday 40 years ago, Dr. King adapted one of his standard sermons, “Remaining Awake Through a Great Revolution.” From the allegory of Rip Van Winkle, he told of a man who fell asleep before 1776 and awoke 20 years later in a world filled with strange customs and clothes, a whole new vocabulary, and a mystifying preoccupation with the commoner George Washington rather than King George III.
Dr. King pleaded for his audience not to sleep through the world’s continuing cries for freedom. When the ancient Hebrews achieved miraculous liberation from Egypt, many yearned to go back. Pharaoh’s familiar lash seemed better than the covenant delivered by Moses, and so the Hebrews wandered in the wilderness. It took 40 years to recover their bearings. Dr. King has been gone 40 years now, but we still sleep under Pharaoh. It is time to wake up.
Dr. King had been in Memphis marching in support of sanitation workers. Two of them, Echol Cole and Robert Walker, had been crushed in a mechanical malfunction; city rules forbade black employees to seek shelter from rain anywhere but in the back of their compressor trucks, with the garbage. But looting had broken out from Dr. King’s march, for the first time.
When he showed up in Washington that Sunday morning, he was scarcely the toast of the United States. Headlines in Memphis called him, “Chicken à la King,” with accusations that he had run from his own fight. The St. Louis Globe-Democrat called Dr. King “one of the most menacing men in America today,” and published a wild-eyed minstrel cartoon of him aiming a huge pistol from a cloud of gun smoke, with the caption, “I’m Not Firing It — I’m Only Pulling the Trigger.”
So Dr. King stood in the pulpit a marked man, scorned and rebuked, beset with inner conflicts. Yet as always, he lifted hope from the bottom of his soul. He urged the congregation to be alive and awake to great revolutions in progress. “I say to you that our goal is freedom,” he cried, “and I believe we’re going to get there because — however much she strays from it — the goal of America is freedom!”
We face daunting precedent in history. Our nation has slept for decades under the spell of myths grounded in race. I grew up being taught that the Civil War was about federalism, not slavery. My textbooks even used a religious term, the “redeemers,” to describe politicians who restored white supremacy with Ku Klux Klan terrorism late in the 19th century. Modern Hollywood was founded on the emotional power of that myth as portrayed in “The Birth of a Nation.” Progressive forces advocated racial hierarchy with a bogus science of eugenics.
More than once, the dominant culture has turned history upside down to make itself feel comfortable. And when a civil rights movement rose from the fringe of maids and sharecroppers, making it no longer respectable to defend racial segregation, wounded voices adapted again to curse government as the agent of general calamity. We have painted Dr. King’s era as a time of aimless, unbridled license, with hippies running amok.
The watchword of political discourse has degenerated from “movement” to “spin.” In Dr. King’s era, the word “movement” grew from a personal inspiration into leaps of faith, then from shared discovery and sacrifice into upward struggle, spawning kindred movements until great hosts from Selma to the Berlin Wall literally could feel the movement of history.
Now we have “spin” instead, suggesting that there is no real direction at stake from political debate, nor any consequence except for the players in a game. Such language embraces cynicism by reducing politics to entertainment.
Democratic balance has slept for 40 years, and we face a world like Rip Van Winkle run backward. We wake up blinking at Tiger Woods, Condoleezza Rice and Barack Obama, while our government demands arbitrary rule by secrecy, conquest and dungeons. King George III seems reborn.
Please resist any partisan connotation. Our problem is far too big for that. Indeed, I think the most pressing challenge for admirers of Dr. King is to recognize our own complicity in the stifling myths about civil rights history. Battered, long-suffering allies of Dr. King discarded him as a tired moderate long before the reactionary campaign to make the word “liberal” a kiss of death for candidates across the country. Similarly, forces called radical and militant turned against liberal governments for taking so long to respond to racial injustice, then for the Vietnam War. Only a convergence of the political left and right could cause such lasting erosion for the promise of free government itself.
Many of Dr. King’s closest comrades rejected his commitment to nonviolence. The civil rights movement created waves of history so long as it remained nonviolent, then stopped. Arguably, the most powerful tool for democratic reform was the first to become passé. It vanished among intellectuals, on campuses and in the streets. To this day, almost no one asks why.
We must reclaim the full range of blessings from his movement. For Dr. King, race was in most things, but defined nothing alone. His appeal was rooted in the larger context of nonviolence. His stated purpose was always to redeem the soul of America. He put one foot in the Constitution and the other in scripture. “We will win our freedom,” he said many times, “because the heritage of our nation and the eternal will of God are embodied in our echoing demands.” To see Dr. King and his colleagues as anything less than modern founders of democracy — even as racial healers and reconcilers — is to diminish them under the spell of myth.
Dr. King said the movement would liberate not only segregated black people but also the white South. Surely this is true. You never heard of the Sun Belt when the South was segregated. The movement spread prosperity in a region previously unfit even for professional sports teams. My mayor in Atlanta during the civil rights era, Ivan Allen Jr., said that as soon as the civil rights bill was signed in 1964, we built a baseball stadium on land we didn’t own, with money we didn’t have, for a team we hadn’t found, and quickly lured the Milwaukee Braves. Miami organized a football team called the Dolphins.
The movement also de-stigmatized white Southern politics, creating two-party competition. It opened doors for the disabled, and began to lift fear from homosexuals before the modern notion of “gay” was in use. Not for 2,000 years of rabbinic Judaism had there been much thought of female rabbis, but the first ordination took place soon after the movement shed its fresh light on the meaning of equal souls. Now we think nothing of female rabbis and cantors and, yes, female Episcopal priests and bishops, with their colleagues of every background. Parents now take for granted opportunities their children inherit from the Montgomery bus boycott.
It is both right and politic for all people, including millions who are benign or indifferent toward the civil rights movement, or churlish and resentful, to see that they, too, and their heirs, stand with us on the shoulders of Rosa Parks, Medgar Evers and Fannie Lou Hamer.
Dr. King showed most profoundly that in an interdependent world, lasting power grows against the grain of violence, not with it. Both the cold war and South African apartheid ended to the strains of “We Shall Overcome,” defying all preparations for Armageddon. The civil rights movement remains a model for new democracy, sadly neglected in its own birthplace. In Iraq today, we are stuck on the Vietnam model instead. There is no more salient or neglected field of study than the relationship between power and violence.
We recoil from nonviolence at our peril. Dr. King rightly saw it at the heart of democracy. Our nation is a great cathedral of votes — votes not only for Congress and for president, but also votes on Supreme Court decisions and on countless juries. Votes govern the boards of great corporations and tiny charities alike. Visibly and invisibly, everything runs on votes. And every vote is nothing but a piece of nonviolence.
SO what should we do, now that 40 years have passed? How do we restore our political culture from spin to movement, from muddle to purpose? We must take leaps, ask questions, study nonviolence, reclaim our history.
What Dr. King prescribed in his last Sunday sermon begins with the story of Lazarus and Dives, from the 16th chapter of Luke. Told entirely from the mouth of Jesus, it is a story starring Abraham the patriarch of Judaism, set in the afterlife. There’s nothing else like it in the Bible.
Dr. King loved this parable as the text for a fabled 1949 sermon by Vernon Johns, his predecessor at the Dexter Avenue Baptist Church in Montgomery. Lazarus was a lame beggar who once pleaded unnoticed outside the sumptuous gates of a rich man called Dives. They both died, and Dives looked from torment to see Lazarus the beggar secure in the bosom of Abraham. The remainder of the parable is an argument between Abraham and Dives, calling back and forth from heaven to hell.
Dives first asked Abraham to “send Lazarus” with water to cool his burning lips. But Abraham said there was a “great chasm” fixed between them, which could never be crossed. In his sermon, Dr. Johns drew a connection between the chasm and segregation.
But according to Dr. Johns, Dives wasn’t in hell because he was rich. He wasn’t anywhere near as rich as Abraham, one of the wealthiest men in antiquity, who was there in heaven. Nor was Dives in hell because he had failed to send alms to Lazarus. He was there because he never recognized Lazarus as a fellow human being. Even faced with everlasting verdict, he spoke only with Abraham and looked past the beggar, treating him still as a servant in the third person — “send Lazarus.”
Dr. King’s sermons drew more layers of meaning from this parable. He said we must accept the suffering rich man as no ordinary, nasty sinner. When refused water for himself, he worried immediately about his five brothers. Dives asked Abraham again to send Lazarus, this time as a messenger to warn the brothers about their sin. Tell them to be nice to beggars outside the wall. Do something, please, so they don’t wind up here like me.
Dr. King said Dives was a liberal. Despite his own fate, he wanted to help others. Abraham rebuffed this request, too, telling Dives that his brothers already had ample warning in Torah law and the books of the Hebrew prophets. Still Dives persisted, saying no, Abraham, you don’t understand — if the brothers saw someone actually rise from the dead and warn them, then they would understand.
Jesus quotes Abraham saying no. If the brothers do not accept the core teaching of the Torah and the prophets, they won’t believe even a messenger risen from the dead. Dr. King said this parable from Jesus burns up differences between Judaism and Christianity. The lesson beneath any theology is that we must act toward all creation in the spirit of equal souls and equal votes. The alternative is hell, which Dr. King sometimes defined as the pain we inflict on ourselves by refusing God’s grace.
Dr. King then went back to Memphis to stand with the downtrodden workers, with the families of Echol Cole and Robert Walker. You may have seen the placards from the sanitation strike, which read “I Am a Man,” meaning not a piece of garbage to be crushed and ignored. For Dr. King, to answer was a patriotic and prophetic calling. He challenges everyone to find a Lazarus somewhere, from our teeming prisons to the bleeding earth. That quest in common becomes the spark of social movements, and is therefore the engine of hope.

Taylor Branch is the author, most recently, of “At Canaan’s Edge,” the third volume in his history of the modern civil rights era. This article was adapted from a speech he gave on Monday at the National Cathedral.

PETER SLOTERDIJK: fast food & fast aesthetics

Peter Sloterdijk
In: Mobilizacäo copernicana e desmilitarizacäo ptolemaica

Se o espirito do tempo e a musica dos pardais desde sempre foram identicos, basta entäo assobiar este juizo comovente dos telhais, e um novo espirito do tempo nasceu, que tem a sua substancia na cognicäo de que todos os pardais estäo à mesma distancia do céu - pressupondo que tenham um telhal do qual possam assobiar. A Postmoderna é um sistema auto-poietico, que se comeca a estabilizar, no momento em que uma massa critica de pardais comeca a cantar dos telhais que näo ve porque näo pode também cantar dos telhais da forma que lhe ensinaram que näo deveria cantar. Deste modo a Postmoderna marca, de uma perspectiva optimista, um estádio evoluido de democracia estética: os passaros inteligentes do Ocidente chilream sobre as cabecas do publico que no futuro será tomado como arte avancada, näo importa o que seja assobiado dos telhais. (...)
Estas consideracöes retomam uma questäo que Jürgen Habermas recentemente colocou em discussäo sob o titulo A Nova Falta de Visäo Geral(...). Caracteriza um efeito que esta pegado nas novas fabricacöes de visäo do mundo. Se inumeros individuos esbocam perspectivamente e por mäo propria as suas Novas Sinteses, para ganhar uma vista geral no Caos do Tempo Moderno, entäo a soma da confusäo cresce exponencialmente. Uma outra visäo geral sobre as Novas Visöes Gerais, reconhece necessáriamente Nova Falta de Visäo Geral. (...) "A arte está em todas as partes, porque a obra de arte está no coracäo da realidade." (Jean Baudrillard)


NOTAS
auto-poiesis: que se origina a si mesmo

Materiais:
Peter Stloterdijk: Kopernikanische Mobilmachung und ptolemäische Abrüstung

segunda-feira, 14 de abril de 2008

do masculinismo em prol da heterofilia

Li algures da existencia dum colectivo feminista agrupando homens e mulheres no intento de combater o sexismo e a homofobia e trazer o feminismo para a rua.
Confesso a subita perplexidade: havia rato por ali. É que feminismo para mim é, trinta anos depois, o facto de umas tantas fulanas me terem expulsado de uma livraria nos finais dos 70, na qual eu havia entrado para em acto de insubmissäo protestar contra um anuncio colocado na vitrine em enormissimas letras vermelhas "INTERDITO O ACESSO A HOMENS!"
Acabei por acatar a ordem, com o covarde sentimento de uma das mais amargas derrotas na minha vida, daquelas que um perde, sabendo que näo havia tido a insinuacäo de uma chance de ganha-la, mais: de luta-la sequer.
Bem, aprenderam algo os meus companheiros de sexo, näo entram mais em livrarias feministas com letras vermelhas nas vitrines: convidam as raparigas a vir para a rua celebrar em conjunto a luta contra o sexismo e a homofobia. Gostaria de ter sabido, se é um grupo de homens com algumas mulheres pelo meio, ou um agrupamento de senhoras com alguns fulanos infiltrados. Creio no entanto que a criacäo de tal colectivo, o terem-se dado um estatuto e oficializado e celebrado a sua existencia, manifesta exagero no consumo de alguma coisa. É que, ou pelo sexismo ou pela homofobia: ou o sexismo é hetero-fobico (fazendo uma leitura negativa do mesmo) ou homo-fil (numa leitura positiva).
Complica-se a questäo se agregarmos uma lesbiana, um veado e um travesti à tal comitiva feminista! A lesbiana que assobia ao balancar sensual de uma super-mulata é que? Homo-fil e logo näo sexista?, ou hetero-fobica e sexista? E o veado que dirige um piropo a algém do sexo oposto é que? Masoquista? Deixemos o travesti de lado, para näo alargar a questäo em demasia.
No campo do amor, e sejamos sinceros, o sexismo é uma forma de amor, näo há espaco para clarezas: vive-se de insinuacöes, de gestos mal-entendidos, de toques intencionados pelos quais se pede desculpa, etc. e tal - é o campo da proto-linguagem (uma linguagem sem dicionário e sem denotacöes precisas, em que as conjuncöes dos morfemas utilizados conteem multiplos sentidos, podendo ser lidas assim ou assado). Eliminar o sexismo seria interdir o amor.
Peca o colectivo pelo exagero de condimentos, estragou-se a sopa por um abuso. Que se reunam homens e mulheres em montäo e fundem alguma coisa parece-me estupendo, que se embriaguem, facam festa e tenham ou näo tenham filhos, melhor ainda. Agora, que se acabe com o sexismo, se proiba a hetero- ou a homo-filia, näo é mais do meu agrado.
"La femme est l´avenir de l´homme" (a mulher é o futuro do homem), dizia Aragon. Näo disse: la femme et l´homme sont l´avenir de l´homme, nem täo pouco pretendeu superar a dicotomia querendo ir para o além do mulher/homem - pressentiu que havia rato por ali o Aragon também, optou pela confusäo que culminou em clareza: La femme est l´avenir de l´homme!

P.S.
Pergunta-me a minha prima como eu denominaria entäo aquele tipo atrevido que na quinta-feira passada na paragem do electrico lhe propos assim sem mais nem menos: "ó filha!, tás boa como o milho! Tens compromisso já na tua cama?"
Bem, eu acho que para isso a linguagem tem os seus termos apropriados, bem claros e precisos, como "estupido" (chamaram-me esta coisa ainda hoje, embora num outro contexto, assim como resposta imediata a um "mula com cornitos"), "tonto" ou, mais erudito "macho patologicamente pre-conceituado sem ajuda profissional" (convem umas licöes de kick-box prévias antes de optar pela ultima variante).