New York Times April 6, 2008
OP-ED CONTRIBUTOR
O Ultimo Desejo de Martin Luther King
De TAYLOR BRANCH
Quarenta anos atrás, no dia 31 de Marco na National Cathedral, o Reverendo Dr. Martin Luther King Jr. apresentou o que viria a ser o seu ultimo sermäo dominical, a caminho de retorno para Memphis. Nessa mesma noite em 1968, o Presidente Johnson chocou o mundo anunciando näo intencionar tentar a sua reeleicäo.
Era eu Senior no College. A minha mäe estava de visita quatro noites mais tarde, quando todas as conversas paralizaram subitamente num restaurante bem frequentado. Um empregado de mesa havia sussurrado que Dr. King havia sido assassinado.
Direitos civis, Vietnam, Dr. King, Mempis - estas säo marcos historicos. Mesmo assim, este ano é um pente divisorio. Porque o Dr. King sómente viveu 39 anos, a partir de agora, ele haverá ter partido há mais tempo que o qual viveu entre nós. Duas geracöes entreviram as luzes desde Memphis.
Isto näo significa que o nosso compreendimento seja perspicaz ou completo. Uma certa quantia de glosa e mitologia é inevitavel para as grandes figuras, sejam elas George Washington deitando abaixo uma cerejeira, Honest Abe abrindo um trecho ou o Dr. King pregando um sonho de igualdade na cidadania em 1963. Muito para além disso, de todas as formas, encaixamos o Dr. King e a sua era num mito penetrante, falso à nossa heranca e perigoso para o nosso futuro. Distorcemos a nosa completa cultura politica para iludir as licöes da era de Martin Luther King.
Ele avisou-nos pessoalmente. Quando chegou ao pulpito naquele domingo 40 anos atrás, Dr. King adaptou um dos seus sermöes standard, “ Permanecendo desperto durante a Grande Revolucäo”. Da alegoria de Rip Van Winkle, ele narrou de um homem que caiu em sono profundo antes de 1776 e acordou 20 anos mais tarde num mundo cheio de estranhos costumes e vestuarios, um vocabulário completmente novo e uma preocupacäo mistificante com o commoner George Washington mais que que com o Rei George III.
Dr. King pediu à sua audiencia para näo adormecer durante os gritos continuos da humanidade pela liberdade. Quando os antigos Hebreus lograram a miraculosa liberacäo do Egipto, muitos desejavam regressar.. As chicotadas familiares do faraó pareciam preferiveis aos convenios de Moises, e assim os hebreus caminharam pela wilderness. It took 40 years to recover their bearings. Dr. King partiu há 40 anos, mas ainda dormimos sob a custódia do faraó. É tempo de acordarmos.
Dr. King estava em Memphis manifestando em apoio aos trabalhadores dos servicos sanitários. Dois deles, Echol Cole and Robert Walker, haviam sido esmagados num acidente de trabalho: as normas municipais interdiam aos seus empregados negros de proteger-se da chuva em outro lugar que näo fosse a traseira do compressor dos seus tractors, junto com o lixo. Mas expoliacäo havia partido da manifestacäo do Dr. King, pela primeira vez.
Quando ele se apresentou em Washington aquela manha de domingo era dificilmente o brindedos Estados Unidos. ‘Os cabecalhos em Memphis apelidavam-lhe “Frango à la King,” acusando-o de haver fugido da sua propria batalha.. O St. Louis Globe-Democrat denominou Dr. King “um dos homens mais ameacadores da America actual,” e publicou uma caricatura de um arauto de olhos selvagens portando uma pistola no meio de uma nuvem de fumo com o texto de “näo estou disparando com ela – somente estou a puxar o gatilho”.Assim, o Dr. King ficou no pulpito, um homem marcado, desprezado e reprendido, pleno de conflitos interiores. No entanto, como sempre, ele elevou a esperanca das profundezas da sua alma. Exortou a congregacäo para ficarem vivos e despertos às grandes revolucöes em progresso. “Eu digo-vos que a nossa meta é a liberdade”, gritou, “e acredito que vamos chegar lá porque – por näo importa quanto ela esteja extraviada — a meta da America é a liberdade!”
Encontramo-nos perante assustadores precedentes na historia. A nossa nacäo dormiu durante decadas sob o enunciar de mitos fundados na raca. Cresci, sendo ensinado que a Guerra Civil era sobre federalismo näo sobre a escravidäo. Os meus manuais escolares usavam inclusivamente um termo religioso, os “redentores”, para descrever os politicos que haviam reestabelecido a supremacia branca com o terrorismo do Ku Klux Klan nos finais do século XIX. O Hollywood modern foi fundado na forca (com cedilha) emocional deste mito, como retratado em “O nascimento de uma nacäo”. As forcas progressivas advogavam a hierarquia racial com uma falsa ciencia de Eugenia.
Mais que uma vez, a cultura dominante deu uma reviravolta na historia para se sentir mais confortavel. E quando um movimento de direitos civis surgiu da franja de criadas e de caseiros, tornando näo respeitavel defender a segregacäo racial, vozes ofendidas acomodaram-se novamente para amaldicoar o governo como agente da calamidade generalizada. Pintámos a era do Dr. King’s como uma época sem objectives, permissäo desenfreada, com os hippies freneticamente despistados
O lema do discurso politico degenerou de “movimento” para “rodopio”. Na era do Dr. King a palavra “movimento” tornou-se de uma inspiracäo pessoal para saltos de fé (leaps of faith), e depois de descoberta e sacrificio partilhados para luta a pela ascencäo, proliferando movimentos aparentados até grandes hostes de Selma ao Muro de Berlin podiam sentir o movimento da historia (¿??).
Agora temos “rodopio” (“spin”) a substituir, sugerindo que näo há direcionamento real na aposta do debate politico (stake from political debate), nem alguma consequencia com a excepcäo dos participantes no jogo. Tal linguagem abraca o cinismo, reduzindo politica a entretimento.
O equilibrio democratico manteve-se dormido durante 40 anos, e encontramo-nos perante um mundo como Rip Van Winkle correndo para o passado. Acordamos pestanejando para Tiger Woods, Condoleezza Rice e Barack Obama, enquanto o nosso governo exige uma regra arbitraria através de sigilo, conquista e calabouco. Rei George III parece renascido.
Resista-se por favor a qualquer conotacäo partisa (partisan). O nosso problema é extremamente enorme para tal. De facto, penso que o desafio mais acuto para os admiradores do Dr. King consiste em reconhecer a nossa propria complicidade nos mitos sufocantes sobre a historia dos Direitos Civis. Aliados desgastados (battered, long-suffering) do Dr. King desfizeram-se dele como um moderado cansado, muito antes da campanha reacionária convertendo a palavra “liberal” num beijo de morte para os candidatos por todo o pais. Da mesma forma, as forcas chamadas radicais e militantes voltaram-se contra os governos liberais por ter sido tomado tanto tempo a responder à justice racial, mais tarde à Guerra do Vietnam. Só a convergencia da esquerda e da direita politica pode causar täo tal duradoura erosäo pela promessa do governo livre ele mesmo (??).
Muitos dos companheiros mais achegados do Dr. King rejeitaram o seu cometimento (commitment ) à näo violencia. O movimento pelos Direitos Civis criou ondas de história enquanto (so long as) ficou näo-violento, depois parou. Discutivelmente, o instrumento mais poderoso na reforma democratica foi o primeiro a tornar-se passé. Esvaneceu entre intelectuais, nos campus universitários e nas ruas. Hoje em dia, quase ninguém pergunta porquê.
Temos que reclamar de a leque completo de bencäos do seu movimento. Para o Dr. King, a raca (competicäo??) estava na maioria das coisas, mas por si só näo definia nada. O seu apelo estva enraizado no contexto mais abrangente de näo-violencia. A sua intencäo determinada foi sempre redimir a alma da America. Colocou um pé na Constituicäo e o outro na Escritura. “Ganharemos a nossa liberdade”, disse muitas vezes, “porque a heranca da nossa nacäo e a vontade eterna de Deus estäo incorporadas no eco das nossas preces” (echoing demands). Ver Dr. King e os seus colegas como algo menos como fundadores modernos da democracia – mesmo como curadores raciais e reconciliadores – é diminui-los sob o lema do mito.
Dr. King dizia que o movimento liberaria näo somente as gentes negras segregadas mas como também o Sul branco. Certamente que isto está correcto. Nunca se ouviu falar do Sun Belt (cinturäo do sol) quando o Sul era segregado. O movimento espalhou-se prosperamente numa regiäo préviamente inadaptada até para equipes de desporto profissional. O meu Mayor (presidente da camara) em Atlanta durante a era dos Direitos Civis, Ivan Allen Jr., disse que logo que a Emenda dos Direitos Civis (civil rights bill) foi assinada em 1964, nós contruimos um estádio de baseball em terreno que näo possuiamos, com dinheiro que näo tinhamos, para uma equipe que näo tinhamos encontrado, e rapidamente encantaram os Milwaukee Braves. Miami organizou uma equipe de football chamada The Dolphins.
O movimento também de-estigmatizou os politicos brancos do Sul, criando a competicäo bi-partidária. Abriu as portas aos descapacitados, e comecou a liberar medos dos homosexuais antes da nocäo moderna de “gay” estivera em uso. Durante 2.000 anos de Judaismo rabinico näo se pensou muito sobre rabbis femeninos, mas a primeira ordenacäo sucedeu pouco depois do movimento ter lancado luz fresca sobre o significado de almas iguais. Hoje näo pensamos nada sobre rabbis e cantadores feminino e, sim, padres episcopais femininos e bispos, com os seus colegas de cada backgroud (¿). Pais actuais tomam como mercê oportunidades que os seus filhos herdaram do boicote dos autocarros de Montgomery.
É simultaneamente direto e politica (¿) para toda a gente, incluindo milhöes que säo benignos o indiferentes ao movimento pelos Direitos Civis, ou viläo e ressentido, para ver que eles, também, e os seus herdeiros, estäo a nosso lado sobre os ombros de Rosa Parks, Medgar Evers e Fannie Lou Hamer.Dr. King mostrou mais profundamente que num mundo interdependente, a forca duradoura cresce contra o gräo de violencia, näo com ele. Tanto a guerra fria como o apartheid Sul-africano terminaram com os esforcos (ended to the strains of ) do “We Shall Overcome”, desafiando todas as preparacöes para Armageddon. O movimento dos Direitos Civis fica um modelo para a nova democracia, tristemente negligado no seu proprio local de nascimento. Em vez disso, no Iraque actual, estamos fascinados pelo modelo Vietnam. (¿) Näo há campo mais saliente ou descuidado de estudo, que o das relacöes entre poder e violencia.
Recumos perante a näo-violencia sendo a nossa responsabilidade(¿). Dr. King viu-lo claramente no coracäo da democracia. A nossa nacäo é uma enorma catedral de votos – botos näo somente para o Congresso e para o presidente, mas também votos nas decisöes do Tribunal Supremo e de inumeros juris (conjuntos de jurados?). Os votos governam as comissöes tanto das grandes empresas (corporacöes?) como das minusculas caridades. Visivel- e invisivelmente, tudo corre pelos votos. E cada voto näo é nada mais, senäo uma peca de näo-violencia.
PORTANTO que deveriamos fazer, agora que passaram 40 anos? Como restaurar a nossa cultura politica de rodopio (Spin?) para movimento, de confusäo para intencäo? Temos que aproveitar as oportunidades (take leaps?), inquirer questöes, estudar a näo-violencia, reclamar a nossa historia.
O que o Dr. King prescreveu no seu ultimo sermäo dominical comeca com a narracäo de Lazarus e Dives (?) do decimo-sexto capitulo de Lucas. Dito inteiramente da boca de Jesus, é uma historia em que figura Abraham, o patriarca do Judaismo, colocado no depois da morte. Näo há nada similiar na Biblia.
Dr. King adorava esta parabola como o texto para um sermäo enfabulado de Vernon Johns, o seu antecessor na Dexter Avenue Baptist Church em Montgomery. Lazarus era uma mendigo coxo que entäo implorava despercebidamente nos exteriores dos jardins sumptuosos de um homem rico chamado Dives. Ambos morreram, e Dives olhando do tormento par ver Lezarus, o mendigo, em seguridade no seio de Abraham. A parte restante da parabola é um argumento entre Abraham e Dives, falando para cá e para lá, do céu para o inferno.
Dives primeiramente pediu Abraham para “enviar Lazarus” com agua para refrescar os seus labios ardentes. Mas Abraham disse que havia um “enorme abismo” entre eles, o qual nunca poderia ser superado. No seu sermäo, o Dr. Johns estabeleceu uma coneccä entre abismo e segregacäo.
Mas, de acordo com Dr. Johns, Dives nä estava no inferno por ter sido rico. A sua riqueza ficava muito aquém daquela de Abraham, um dos homens mais vigorosos da antiguidade, o qual estava ali, no paraiso. Nem täo pouco estava Dives no inferno por näo ter havido enviado esmolas a Lazarus. Ele estava ali por nunca haver reconhecido Lazarus como um ser humano. Mesmo em face do veredicto eterno, falava somente com Abraham e olhava por cima do mendigo, tratando-o ainda como um servidor na terceira pessoa ¬¬– “envia Lazarus”.
Os sermöes de Dr. King extraiam mais camadas desta parabola. Ele disse que temos aceitar o homem rico sofrendo näo como um pecador normal e nauseabundo. Quando lhe foi recusada agua para ele mesmo, preocupou-se imediatamente sobre os seus cinco irmäos. Dives pediu a Abraham novamente para enviar Lazarus, desta vez como mensageiro para avisar os seus irmäos sobre os seus pecados. Diz-lhes que sejam gentis com os mendigos do outro lado do muro. Faz algo, por favor, assim eles näo terminarem aqui também, como eu.
Dr. King disse que Dives era um liberal. Apesar do seu proprio destino, queria ajudar os outros. Abraham rejeitou este pedido também, dizendo a Dives que os seus irmäos já tinham amplos avisos na lei da Torah e nos profetas hebreus. Ainda Dives persistiu, dizendo näo, Abraham, tu näo entendes – se os irmäos vissem alguém realmente vir da morte e preveni-los, entäo eles compreenderiam.
Jesus refere-se a Abraham dizendo näo. Se os irmäo näo aceitam o ensinamento central da Torah e dos profetas, näo acreditariam täo pouco um mensageiro ascendido da morte. Dr. King disse que esta parabola de Jesus elimina as diferencas entre o Judaismo e a Cristandade. A licäo por trás de qualquer teologia é que temos que agir em direcäo de toda a criacäo no espirito de alma iguais e votos iguais. A alternativa é o inferno, o qual Dr. King algumas vezes definiu como a dor que infligimos a nós mesmos refusando a graca divina.
Dr. King entäo regressou a Memphis para ficar com os trabalhadores pisados, com as familias de Echol Cole e Robert Walker. Talvez tenhais visto os placards (posters?) da greve de sanitários (sanitation?), que leem “Eu sou um ser humano”, siginificando näo um peca de lixo para ser esmagado e ignorado. Para o Dr. King, a resposta era um apelo patriotico e profetico. Ele exorta cada um a encontrar um Lazarus algures, das nossas prisöes apinhadas ate às terras sangrentas. Esta busca no comum converte-se a faisca de movimentos sociais, e é portanto o engenho da esperanca.
Taylor Branch é o autor, mais recentemente, de “Na borda de Canaan”, o terceiro volume da sua historia da era moderna de Direitos Civis. Este artigo é uma adaptacäo de um discurso proferido na Segunda-feira na National Cathedral.
ALGUMAS NOTAS:
Selma: uma pequena cidade, cerca de Montgomery, onde o movimento pro Civil Rights logrou, após umas quantas peripécias e tres mortos, a insercäo incondicional dos negros nas listas eleitorais.
Honest Abe: Cognome dado a Abraham Lincoln, presidente dos EU 1860-68, adversário da escravidäo
Sharecropper: aquele que aluga um terreno em propriedade alheia e entrega uma parte dos beneficios da mesma ao seu proprietário
Gay: “veado”, termo simpatico para designar “homosexual”
Nota pessoal:
Taylor Branch foi condecorado com o Pullitzer Price for History em 1988. Por mais que uma condecoracäo näo seja etiqueta de qualidade, talvez ela ajude a propagar a leitura do elucidativo texto (depois das correcöes prometidas). Que me perdoe o Richard Dawkins por esta minha fraquezazita aqui, mas a questäo aqui, neste momento, neste site é uma outra que a do “God´s Delusion”
Carlos Aguilar
OP-ED CONTRIBUTOR
O Ultimo Desejo de Martin Luther King
De TAYLOR BRANCH
Quarenta anos atrás, no dia 31 de Marco na National Cathedral, o Reverendo Dr. Martin Luther King Jr. apresentou o que viria a ser o seu ultimo sermäo dominical, a caminho de retorno para Memphis. Nessa mesma noite em 1968, o Presidente Johnson chocou o mundo anunciando näo intencionar tentar a sua reeleicäo.
Era eu Senior no College. A minha mäe estava de visita quatro noites mais tarde, quando todas as conversas paralizaram subitamente num restaurante bem frequentado. Um empregado de mesa havia sussurrado que Dr. King havia sido assassinado.
Direitos civis, Vietnam, Dr. King, Mempis - estas säo marcos historicos. Mesmo assim, este ano é um pente divisorio. Porque o Dr. King sómente viveu 39 anos, a partir de agora, ele haverá ter partido há mais tempo que o qual viveu entre nós. Duas geracöes entreviram as luzes desde Memphis.
Isto näo significa que o nosso compreendimento seja perspicaz ou completo. Uma certa quantia de glosa e mitologia é inevitavel para as grandes figuras, sejam elas George Washington deitando abaixo uma cerejeira, Honest Abe abrindo um trecho ou o Dr. King pregando um sonho de igualdade na cidadania em 1963. Muito para além disso, de todas as formas, encaixamos o Dr. King e a sua era num mito penetrante, falso à nossa heranca e perigoso para o nosso futuro. Distorcemos a nosa completa cultura politica para iludir as licöes da era de Martin Luther King.
Ele avisou-nos pessoalmente. Quando chegou ao pulpito naquele domingo 40 anos atrás, Dr. King adaptou um dos seus sermöes standard, “ Permanecendo desperto durante a Grande Revolucäo”. Da alegoria de Rip Van Winkle, ele narrou de um homem que caiu em sono profundo antes de 1776 e acordou 20 anos mais tarde num mundo cheio de estranhos costumes e vestuarios, um vocabulário completmente novo e uma preocupacäo mistificante com o commoner George Washington mais que que com o Rei George III.
Dr. King pediu à sua audiencia para näo adormecer durante os gritos continuos da humanidade pela liberdade. Quando os antigos Hebreus lograram a miraculosa liberacäo do Egipto, muitos desejavam regressar.. As chicotadas familiares do faraó pareciam preferiveis aos convenios de Moises, e assim os hebreus caminharam pela wilderness. It took 40 years to recover their bearings. Dr. King partiu há 40 anos, mas ainda dormimos sob a custódia do faraó. É tempo de acordarmos.
Dr. King estava em Memphis manifestando em apoio aos trabalhadores dos servicos sanitários. Dois deles, Echol Cole and Robert Walker, haviam sido esmagados num acidente de trabalho: as normas municipais interdiam aos seus empregados negros de proteger-se da chuva em outro lugar que näo fosse a traseira do compressor dos seus tractors, junto com o lixo. Mas expoliacäo havia partido da manifestacäo do Dr. King, pela primeira vez.
Quando ele se apresentou em Washington aquela manha de domingo era dificilmente o brindedos Estados Unidos. ‘Os cabecalhos em Memphis apelidavam-lhe “Frango à la King,” acusando-o de haver fugido da sua propria batalha.. O St. Louis Globe-Democrat denominou Dr. King “um dos homens mais ameacadores da America actual,” e publicou uma caricatura de um arauto de olhos selvagens portando uma pistola no meio de uma nuvem de fumo com o texto de “näo estou disparando com ela – somente estou a puxar o gatilho”.Assim, o Dr. King ficou no pulpito, um homem marcado, desprezado e reprendido, pleno de conflitos interiores. No entanto, como sempre, ele elevou a esperanca das profundezas da sua alma. Exortou a congregacäo para ficarem vivos e despertos às grandes revolucöes em progresso. “Eu digo-vos que a nossa meta é a liberdade”, gritou, “e acredito que vamos chegar lá porque – por näo importa quanto ela esteja extraviada — a meta da America é a liberdade!”
Encontramo-nos perante assustadores precedentes na historia. A nossa nacäo dormiu durante decadas sob o enunciar de mitos fundados na raca. Cresci, sendo ensinado que a Guerra Civil era sobre federalismo näo sobre a escravidäo. Os meus manuais escolares usavam inclusivamente um termo religioso, os “redentores”, para descrever os politicos que haviam reestabelecido a supremacia branca com o terrorismo do Ku Klux Klan nos finais do século XIX. O Hollywood modern foi fundado na forca (com cedilha) emocional deste mito, como retratado em “O nascimento de uma nacäo”. As forcas progressivas advogavam a hierarquia racial com uma falsa ciencia de Eugenia.
Mais que uma vez, a cultura dominante deu uma reviravolta na historia para se sentir mais confortavel. E quando um movimento de direitos civis surgiu da franja de criadas e de caseiros, tornando näo respeitavel defender a segregacäo racial, vozes ofendidas acomodaram-se novamente para amaldicoar o governo como agente da calamidade generalizada. Pintámos a era do Dr. King’s como uma época sem objectives, permissäo desenfreada, com os hippies freneticamente despistados
O lema do discurso politico degenerou de “movimento” para “rodopio”. Na era do Dr. King a palavra “movimento” tornou-se de uma inspiracäo pessoal para saltos de fé (leaps of faith), e depois de descoberta e sacrificio partilhados para luta a pela ascencäo, proliferando movimentos aparentados até grandes hostes de Selma ao Muro de Berlin podiam sentir o movimento da historia (¿??).
Agora temos “rodopio” (“spin”) a substituir, sugerindo que näo há direcionamento real na aposta do debate politico (stake from political debate), nem alguma consequencia com a excepcäo dos participantes no jogo. Tal linguagem abraca o cinismo, reduzindo politica a entretimento.
O equilibrio democratico manteve-se dormido durante 40 anos, e encontramo-nos perante um mundo como Rip Van Winkle correndo para o passado. Acordamos pestanejando para Tiger Woods, Condoleezza Rice e Barack Obama, enquanto o nosso governo exige uma regra arbitraria através de sigilo, conquista e calabouco. Rei George III parece renascido.
Resista-se por favor a qualquer conotacäo partisa (partisan). O nosso problema é extremamente enorme para tal. De facto, penso que o desafio mais acuto para os admiradores do Dr. King consiste em reconhecer a nossa propria complicidade nos mitos sufocantes sobre a historia dos Direitos Civis. Aliados desgastados (battered, long-suffering) do Dr. King desfizeram-se dele como um moderado cansado, muito antes da campanha reacionária convertendo a palavra “liberal” num beijo de morte para os candidatos por todo o pais. Da mesma forma, as forcas chamadas radicais e militantes voltaram-se contra os governos liberais por ter sido tomado tanto tempo a responder à justice racial, mais tarde à Guerra do Vietnam. Só a convergencia da esquerda e da direita politica pode causar täo tal duradoura erosäo pela promessa do governo livre ele mesmo (??).
Muitos dos companheiros mais achegados do Dr. King rejeitaram o seu cometimento (commitment ) à näo violencia. O movimento pelos Direitos Civis criou ondas de história enquanto (so long as) ficou näo-violento, depois parou. Discutivelmente, o instrumento mais poderoso na reforma democratica foi o primeiro a tornar-se passé. Esvaneceu entre intelectuais, nos campus universitários e nas ruas. Hoje em dia, quase ninguém pergunta porquê.
Temos que reclamar de a leque completo de bencäos do seu movimento. Para o Dr. King, a raca (competicäo??) estava na maioria das coisas, mas por si só näo definia nada. O seu apelo estva enraizado no contexto mais abrangente de näo-violencia. A sua intencäo determinada foi sempre redimir a alma da America. Colocou um pé na Constituicäo e o outro na Escritura. “Ganharemos a nossa liberdade”, disse muitas vezes, “porque a heranca da nossa nacäo e a vontade eterna de Deus estäo incorporadas no eco das nossas preces” (echoing demands). Ver Dr. King e os seus colegas como algo menos como fundadores modernos da democracia – mesmo como curadores raciais e reconciliadores – é diminui-los sob o lema do mito.
Dr. King dizia que o movimento liberaria näo somente as gentes negras segregadas mas como também o Sul branco. Certamente que isto está correcto. Nunca se ouviu falar do Sun Belt (cinturäo do sol) quando o Sul era segregado. O movimento espalhou-se prosperamente numa regiäo préviamente inadaptada até para equipes de desporto profissional. O meu Mayor (presidente da camara) em Atlanta durante a era dos Direitos Civis, Ivan Allen Jr., disse que logo que a Emenda dos Direitos Civis (civil rights bill) foi assinada em 1964, nós contruimos um estádio de baseball em terreno que näo possuiamos, com dinheiro que näo tinhamos, para uma equipe que näo tinhamos encontrado, e rapidamente encantaram os Milwaukee Braves. Miami organizou uma equipe de football chamada The Dolphins.
O movimento também de-estigmatizou os politicos brancos do Sul, criando a competicäo bi-partidária. Abriu as portas aos descapacitados, e comecou a liberar medos dos homosexuais antes da nocäo moderna de “gay” estivera em uso. Durante 2.000 anos de Judaismo rabinico näo se pensou muito sobre rabbis femeninos, mas a primeira ordenacäo sucedeu pouco depois do movimento ter lancado luz fresca sobre o significado de almas iguais. Hoje näo pensamos nada sobre rabbis e cantadores feminino e, sim, padres episcopais femininos e bispos, com os seus colegas de cada backgroud (¿). Pais actuais tomam como mercê oportunidades que os seus filhos herdaram do boicote dos autocarros de Montgomery.
É simultaneamente direto e politica (¿) para toda a gente, incluindo milhöes que säo benignos o indiferentes ao movimento pelos Direitos Civis, ou viläo e ressentido, para ver que eles, também, e os seus herdeiros, estäo a nosso lado sobre os ombros de Rosa Parks, Medgar Evers e Fannie Lou Hamer.Dr. King mostrou mais profundamente que num mundo interdependente, a forca duradoura cresce contra o gräo de violencia, näo com ele. Tanto a guerra fria como o apartheid Sul-africano terminaram com os esforcos (ended to the strains of ) do “We Shall Overcome”, desafiando todas as preparacöes para Armageddon. O movimento dos Direitos Civis fica um modelo para a nova democracia, tristemente negligado no seu proprio local de nascimento. Em vez disso, no Iraque actual, estamos fascinados pelo modelo Vietnam. (¿) Näo há campo mais saliente ou descuidado de estudo, que o das relacöes entre poder e violencia.
Recumos perante a näo-violencia sendo a nossa responsabilidade(¿). Dr. King viu-lo claramente no coracäo da democracia. A nossa nacäo é uma enorma catedral de votos – botos näo somente para o Congresso e para o presidente, mas também votos nas decisöes do Tribunal Supremo e de inumeros juris (conjuntos de jurados?). Os votos governam as comissöes tanto das grandes empresas (corporacöes?) como das minusculas caridades. Visivel- e invisivelmente, tudo corre pelos votos. E cada voto näo é nada mais, senäo uma peca de näo-violencia.
PORTANTO que deveriamos fazer, agora que passaram 40 anos? Como restaurar a nossa cultura politica de rodopio (Spin?) para movimento, de confusäo para intencäo? Temos que aproveitar as oportunidades (take leaps?), inquirer questöes, estudar a näo-violencia, reclamar a nossa historia.
O que o Dr. King prescreveu no seu ultimo sermäo dominical comeca com a narracäo de Lazarus e Dives (?) do decimo-sexto capitulo de Lucas. Dito inteiramente da boca de Jesus, é uma historia em que figura Abraham, o patriarca do Judaismo, colocado no depois da morte. Näo há nada similiar na Biblia.
Dr. King adorava esta parabola como o texto para um sermäo enfabulado de Vernon Johns, o seu antecessor na Dexter Avenue Baptist Church em Montgomery. Lazarus era uma mendigo coxo que entäo implorava despercebidamente nos exteriores dos jardins sumptuosos de um homem rico chamado Dives. Ambos morreram, e Dives olhando do tormento par ver Lezarus, o mendigo, em seguridade no seio de Abraham. A parte restante da parabola é um argumento entre Abraham e Dives, falando para cá e para lá, do céu para o inferno.
Dives primeiramente pediu Abraham para “enviar Lazarus” com agua para refrescar os seus labios ardentes. Mas Abraham disse que havia um “enorme abismo” entre eles, o qual nunca poderia ser superado. No seu sermäo, o Dr. Johns estabeleceu uma coneccä entre abismo e segregacäo.
Mas, de acordo com Dr. Johns, Dives nä estava no inferno por ter sido rico. A sua riqueza ficava muito aquém daquela de Abraham, um dos homens mais vigorosos da antiguidade, o qual estava ali, no paraiso. Nem täo pouco estava Dives no inferno por näo ter havido enviado esmolas a Lazarus. Ele estava ali por nunca haver reconhecido Lazarus como um ser humano. Mesmo em face do veredicto eterno, falava somente com Abraham e olhava por cima do mendigo, tratando-o ainda como um servidor na terceira pessoa ¬¬– “envia Lazarus”.
Os sermöes de Dr. King extraiam mais camadas desta parabola. Ele disse que temos aceitar o homem rico sofrendo näo como um pecador normal e nauseabundo. Quando lhe foi recusada agua para ele mesmo, preocupou-se imediatamente sobre os seus cinco irmäos. Dives pediu a Abraham novamente para enviar Lazarus, desta vez como mensageiro para avisar os seus irmäos sobre os seus pecados. Diz-lhes que sejam gentis com os mendigos do outro lado do muro. Faz algo, por favor, assim eles näo terminarem aqui também, como eu.
Dr. King disse que Dives era um liberal. Apesar do seu proprio destino, queria ajudar os outros. Abraham rejeitou este pedido também, dizendo a Dives que os seus irmäos já tinham amplos avisos na lei da Torah e nos profetas hebreus. Ainda Dives persistiu, dizendo näo, Abraham, tu näo entendes – se os irmäos vissem alguém realmente vir da morte e preveni-los, entäo eles compreenderiam.
Jesus refere-se a Abraham dizendo näo. Se os irmäo näo aceitam o ensinamento central da Torah e dos profetas, näo acreditariam täo pouco um mensageiro ascendido da morte. Dr. King disse que esta parabola de Jesus elimina as diferencas entre o Judaismo e a Cristandade. A licäo por trás de qualquer teologia é que temos que agir em direcäo de toda a criacäo no espirito de alma iguais e votos iguais. A alternativa é o inferno, o qual Dr. King algumas vezes definiu como a dor que infligimos a nós mesmos refusando a graca divina.
Dr. King entäo regressou a Memphis para ficar com os trabalhadores pisados, com as familias de Echol Cole e Robert Walker. Talvez tenhais visto os placards (posters?) da greve de sanitários (sanitation?), que leem “Eu sou um ser humano”, siginificando näo um peca de lixo para ser esmagado e ignorado. Para o Dr. King, a resposta era um apelo patriotico e profetico. Ele exorta cada um a encontrar um Lazarus algures, das nossas prisöes apinhadas ate às terras sangrentas. Esta busca no comum converte-se a faisca de movimentos sociais, e é portanto o engenho da esperanca.
Taylor Branch é o autor, mais recentemente, de “Na borda de Canaan”, o terceiro volume da sua historia da era moderna de Direitos Civis. Este artigo é uma adaptacäo de um discurso proferido na Segunda-feira na National Cathedral.
ALGUMAS NOTAS:
Selma: uma pequena cidade, cerca de Montgomery, onde o movimento pro Civil Rights logrou, após umas quantas peripécias e tres mortos, a insercäo incondicional dos negros nas listas eleitorais.
Honest Abe: Cognome dado a Abraham Lincoln, presidente dos EU 1860-68, adversário da escravidäo
Sharecropper: aquele que aluga um terreno em propriedade alheia e entrega uma parte dos beneficios da mesma ao seu proprietário
Gay: “veado”, termo simpatico para designar “homosexual”
Nota pessoal:
Taylor Branch foi condecorado com o Pullitzer Price for History em 1988. Por mais que uma condecoracäo näo seja etiqueta de qualidade, talvez ela ajude a propagar a leitura do elucidativo texto (depois das correcöes prometidas). Que me perdoe o Richard Dawkins por esta minha fraquezazita aqui, mas a questäo aqui, neste momento, neste site é uma outra que a do “God´s Delusion”
Carlos Aguilar
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OP-ED CONTRIBUTOR
The Last Wish of Martin Luther King
By TAYLOR BRANCH
FORTY years ago on March 31, at the National Cathedral, the Rev. Dr. Martin Luther King Jr. delivered what would be his last Sunday sermon, on his way back to Memphis. That same night in 1968, President Johnson shocked the world by announcing that he would not seek re-election.
I was a senior in college. My mother was visiting four nights later when all conversation suddenly hushed in a busy restaurant. A waiter whispered that Dr. King had been shot.
Civil rights, Vietnam, Dr. King, Memphis — these are historic landmarks. Even so, this year is a watershed. Because Dr. King lived only 39 years, from now on, he will be gone longer than he lived among us. Two generations have come of age since Memphis.
This does not mean that our understanding is accurate or complete. A certain amount of gloss and mythology is inevitable for great figures, whether they be George Washington chopping down a cherry tree, Honest Abe splitting a rail or Dr. King preaching a dream of equal citizenship in 1963. Far beyond that, however, we have encased Dr. King and his era in pervasive myth, false to our heritage and dangerous to our future. We have distorted our entire political culture to avoid the lessons of Martin Luther King’s era.
He warned us himself. When he came to the pulpit that Sunday 40 years ago, Dr. King adapted one of his standard sermons, “Remaining Awake Through a Great Revolution.” From the allegory of Rip Van Winkle, he told of a man who fell asleep before 1776 and awoke 20 years later in a world filled with strange customs and clothes, a whole new vocabulary, and a mystifying preoccupation with the commoner George Washington rather than King George III.
Dr. King pleaded for his audience not to sleep through the world’s continuing cries for freedom. When the ancient Hebrews achieved miraculous liberation from Egypt, many yearned to go back. Pharaoh’s familiar lash seemed better than the covenant delivered by Moses, and so the Hebrews wandered in the wilderness. It took 40 years to recover their bearings. Dr. King has been gone 40 years now, but we still sleep under Pharaoh. It is time to wake up.
Dr. King had been in Memphis marching in support of sanitation workers. Two of them, Echol Cole and Robert Walker, had been crushed in a mechanical malfunction; city rules forbade black employees to seek shelter from rain anywhere but in the back of their compressor trucks, with the garbage. But looting had broken out from Dr. King’s march, for the first time.
When he showed up in Washington that Sunday morning, he was scarcely the toast of the United States. Headlines in Memphis called him, “Chicken à la King,” with accusations that he had run from his own fight. The St. Louis Globe-Democrat called Dr. King “one of the most menacing men in America today,” and published a wild-eyed minstrel cartoon of him aiming a huge pistol from a cloud of gun smoke, with the caption, “I’m Not Firing It — I’m Only Pulling the Trigger.”
So Dr. King stood in the pulpit a marked man, scorned and rebuked, beset with inner conflicts. Yet as always, he lifted hope from the bottom of his soul. He urged the congregation to be alive and awake to great revolutions in progress. “I say to you that our goal is freedom,” he cried, “and I believe we’re going to get there because — however much she strays from it — the goal of America is freedom!”
We face daunting precedent in history. Our nation has slept for decades under the spell of myths grounded in race. I grew up being taught that the Civil War was about federalism, not slavery. My textbooks even used a religious term, the “redeemers,” to describe politicians who restored white supremacy with Ku Klux Klan terrorism late in the 19th century. Modern Hollywood was founded on the emotional power of that myth as portrayed in “The Birth of a Nation.” Progressive forces advocated racial hierarchy with a bogus science of eugenics.
More than once, the dominant culture has turned history upside down to make itself feel comfortable. And when a civil rights movement rose from the fringe of maids and sharecroppers, making it no longer respectable to defend racial segregation, wounded voices adapted again to curse government as the agent of general calamity. We have painted Dr. King’s era as a time of aimless, unbridled license, with hippies running amok.
The watchword of political discourse has degenerated from “movement” to “spin.” In Dr. King’s era, the word “movement” grew from a personal inspiration into leaps of faith, then from shared discovery and sacrifice into upward struggle, spawning kindred movements until great hosts from Selma to the Berlin Wall literally could feel the movement of history.
Now we have “spin” instead, suggesting that there is no real direction at stake from political debate, nor any consequence except for the players in a game. Such language embraces cynicism by reducing politics to entertainment.
Democratic balance has slept for 40 years, and we face a world like Rip Van Winkle run backward. We wake up blinking at Tiger Woods, Condoleezza Rice and Barack Obama, while our government demands arbitrary rule by secrecy, conquest and dungeons. King George III seems reborn.
Please resist any partisan connotation. Our problem is far too big for that. Indeed, I think the most pressing challenge for admirers of Dr. King is to recognize our own complicity in the stifling myths about civil rights history. Battered, long-suffering allies of Dr. King discarded him as a tired moderate long before the reactionary campaign to make the word “liberal” a kiss of death for candidates across the country. Similarly, forces called radical and militant turned against liberal governments for taking so long to respond to racial injustice, then for the Vietnam War. Only a convergence of the political left and right could cause such lasting erosion for the promise of free government itself.
Many of Dr. King’s closest comrades rejected his commitment to nonviolence. The civil rights movement created waves of history so long as it remained nonviolent, then stopped. Arguably, the most powerful tool for democratic reform was the first to become passé. It vanished among intellectuals, on campuses and in the streets. To this day, almost no one asks why.
We must reclaim the full range of blessings from his movement. For Dr. King, race was in most things, but defined nothing alone. His appeal was rooted in the larger context of nonviolence. His stated purpose was always to redeem the soul of America. He put one foot in the Constitution and the other in scripture. “We will win our freedom,” he said many times, “because the heritage of our nation and the eternal will of God are embodied in our echoing demands.” To see Dr. King and his colleagues as anything less than modern founders of democracy — even as racial healers and reconcilers — is to diminish them under the spell of myth.
Dr. King said the movement would liberate not only segregated black people but also the white South. Surely this is true. You never heard of the Sun Belt when the South was segregated. The movement spread prosperity in a region previously unfit even for professional sports teams. My mayor in Atlanta during the civil rights era, Ivan Allen Jr., said that as soon as the civil rights bill was signed in 1964, we built a baseball stadium on land we didn’t own, with money we didn’t have, for a team we hadn’t found, and quickly lured the Milwaukee Braves. Miami organized a football team called the Dolphins.
The movement also de-stigmatized white Southern politics, creating two-party competition. It opened doors for the disabled, and began to lift fear from homosexuals before the modern notion of “gay” was in use. Not for 2,000 years of rabbinic Judaism had there been much thought of female rabbis, but the first ordination took place soon after the movement shed its fresh light on the meaning of equal souls. Now we think nothing of female rabbis and cantors and, yes, female Episcopal priests and bishops, with their colleagues of every background. Parents now take for granted opportunities their children inherit from the Montgomery bus boycott.
It is both right and politic for all people, including millions who are benign or indifferent toward the civil rights movement, or churlish and resentful, to see that they, too, and their heirs, stand with us on the shoulders of Rosa Parks, Medgar Evers and Fannie Lou Hamer.
Dr. King showed most profoundly that in an interdependent world, lasting power grows against the grain of violence, not with it. Both the cold war and South African apartheid ended to the strains of “We Shall Overcome,” defying all preparations for Armageddon. The civil rights movement remains a model for new democracy, sadly neglected in its own birthplace. In Iraq today, we are stuck on the Vietnam model instead. There is no more salient or neglected field of study than the relationship between power and violence.
We recoil from nonviolence at our peril. Dr. King rightly saw it at the heart of democracy. Our nation is a great cathedral of votes — votes not only for Congress and for president, but also votes on Supreme Court decisions and on countless juries. Votes govern the boards of great corporations and tiny charities alike. Visibly and invisibly, everything runs on votes. And every vote is nothing but a piece of nonviolence.
SO what should we do, now that 40 years have passed? How do we restore our political culture from spin to movement, from muddle to purpose? We must take leaps, ask questions, study nonviolence, reclaim our history.
What Dr. King prescribed in his last Sunday sermon begins with the story of Lazarus and Dives, from the 16th chapter of Luke. Told entirely from the mouth of Jesus, it is a story starring Abraham the patriarch of Judaism, set in the afterlife. There’s nothing else like it in the Bible.
Dr. King loved this parable as the text for a fabled 1949 sermon by Vernon Johns, his predecessor at the Dexter Avenue Baptist Church in Montgomery. Lazarus was a lame beggar who once pleaded unnoticed outside the sumptuous gates of a rich man called Dives. They both died, and Dives looked from torment to see Lazarus the beggar secure in the bosom of Abraham. The remainder of the parable is an argument between Abraham and Dives, calling back and forth from heaven to hell.
Dives first asked Abraham to “send Lazarus” with water to cool his burning lips. But Abraham said there was a “great chasm” fixed between them, which could never be crossed. In his sermon, Dr. Johns drew a connection between the chasm and segregation.
But according to Dr. Johns, Dives wasn’t in hell because he was rich. He wasn’t anywhere near as rich as Abraham, one of the wealthiest men in antiquity, who was there in heaven. Nor was Dives in hell because he had failed to send alms to Lazarus. He was there because he never recognized Lazarus as a fellow human being. Even faced with everlasting verdict, he spoke only with Abraham and looked past the beggar, treating him still as a servant in the third person — “send Lazarus.”
Dr. King’s sermons drew more layers of meaning from this parable. He said we must accept the suffering rich man as no ordinary, nasty sinner. When refused water for himself, he worried immediately about his five brothers. Dives asked Abraham again to send Lazarus, this time as a messenger to warn the brothers about their sin. Tell them to be nice to beggars outside the wall. Do something, please, so they don’t wind up here like me.
Dr. King said Dives was a liberal. Despite his own fate, he wanted to help others. Abraham rebuffed this request, too, telling Dives that his brothers already had ample warning in Torah law and the books of the Hebrew prophets. Still Dives persisted, saying no, Abraham, you don’t understand — if the brothers saw someone actually rise from the dead and warn them, then they would understand.
Jesus quotes Abraham saying no. If the brothers do not accept the core teaching of the Torah and the prophets, they won’t believe even a messenger risen from the dead. Dr. King said this parable from Jesus burns up differences between Judaism and Christianity. The lesson beneath any theology is that we must act toward all creation in the spirit of equal souls and equal votes. The alternative is hell, which Dr. King sometimes defined as the pain we inflict on ourselves by refusing God’s grace.
Dr. King then went back to Memphis to stand with the downtrodden workers, with the families of Echol Cole and Robert Walker. You may have seen the placards from the sanitation strike, which read “I Am a Man,” meaning not a piece of garbage to be crushed and ignored. For Dr. King, to answer was a patriotic and prophetic calling. He challenges everyone to find a Lazarus somewhere, from our teeming prisons to the bleeding earth. That quest in common becomes the spark of social movements, and is therefore the engine of hope.
Taylor Branch is the author, most recently, of “At Canaan’s Edge,” the third volume in his history of the modern civil rights era. This article was adapted from a speech he gave on Monday at the National Cathedral.
OP-ED CONTRIBUTOR
The Last Wish of Martin Luther King
By TAYLOR BRANCH
FORTY years ago on March 31, at the National Cathedral, the Rev. Dr. Martin Luther King Jr. delivered what would be his last Sunday sermon, on his way back to Memphis. That same night in 1968, President Johnson shocked the world by announcing that he would not seek re-election.
I was a senior in college. My mother was visiting four nights later when all conversation suddenly hushed in a busy restaurant. A waiter whispered that Dr. King had been shot.
Civil rights, Vietnam, Dr. King, Memphis — these are historic landmarks. Even so, this year is a watershed. Because Dr. King lived only 39 years, from now on, he will be gone longer than he lived among us. Two generations have come of age since Memphis.
This does not mean that our understanding is accurate or complete. A certain amount of gloss and mythology is inevitable for great figures, whether they be George Washington chopping down a cherry tree, Honest Abe splitting a rail or Dr. King preaching a dream of equal citizenship in 1963. Far beyond that, however, we have encased Dr. King and his era in pervasive myth, false to our heritage and dangerous to our future. We have distorted our entire political culture to avoid the lessons of Martin Luther King’s era.
He warned us himself. When he came to the pulpit that Sunday 40 years ago, Dr. King adapted one of his standard sermons, “Remaining Awake Through a Great Revolution.” From the allegory of Rip Van Winkle, he told of a man who fell asleep before 1776 and awoke 20 years later in a world filled with strange customs and clothes, a whole new vocabulary, and a mystifying preoccupation with the commoner George Washington rather than King George III.
Dr. King pleaded for his audience not to sleep through the world’s continuing cries for freedom. When the ancient Hebrews achieved miraculous liberation from Egypt, many yearned to go back. Pharaoh’s familiar lash seemed better than the covenant delivered by Moses, and so the Hebrews wandered in the wilderness. It took 40 years to recover their bearings. Dr. King has been gone 40 years now, but we still sleep under Pharaoh. It is time to wake up.
Dr. King had been in Memphis marching in support of sanitation workers. Two of them, Echol Cole and Robert Walker, had been crushed in a mechanical malfunction; city rules forbade black employees to seek shelter from rain anywhere but in the back of their compressor trucks, with the garbage. But looting had broken out from Dr. King’s march, for the first time.
When he showed up in Washington that Sunday morning, he was scarcely the toast of the United States. Headlines in Memphis called him, “Chicken à la King,” with accusations that he had run from his own fight. The St. Louis Globe-Democrat called Dr. King “one of the most menacing men in America today,” and published a wild-eyed minstrel cartoon of him aiming a huge pistol from a cloud of gun smoke, with the caption, “I’m Not Firing It — I’m Only Pulling the Trigger.”
So Dr. King stood in the pulpit a marked man, scorned and rebuked, beset with inner conflicts. Yet as always, he lifted hope from the bottom of his soul. He urged the congregation to be alive and awake to great revolutions in progress. “I say to you that our goal is freedom,” he cried, “and I believe we’re going to get there because — however much she strays from it — the goal of America is freedom!”
We face daunting precedent in history. Our nation has slept for decades under the spell of myths grounded in race. I grew up being taught that the Civil War was about federalism, not slavery. My textbooks even used a religious term, the “redeemers,” to describe politicians who restored white supremacy with Ku Klux Klan terrorism late in the 19th century. Modern Hollywood was founded on the emotional power of that myth as portrayed in “The Birth of a Nation.” Progressive forces advocated racial hierarchy with a bogus science of eugenics.
More than once, the dominant culture has turned history upside down to make itself feel comfortable. And when a civil rights movement rose from the fringe of maids and sharecroppers, making it no longer respectable to defend racial segregation, wounded voices adapted again to curse government as the agent of general calamity. We have painted Dr. King’s era as a time of aimless, unbridled license, with hippies running amok.
The watchword of political discourse has degenerated from “movement” to “spin.” In Dr. King’s era, the word “movement” grew from a personal inspiration into leaps of faith, then from shared discovery and sacrifice into upward struggle, spawning kindred movements until great hosts from Selma to the Berlin Wall literally could feel the movement of history.
Now we have “spin” instead, suggesting that there is no real direction at stake from political debate, nor any consequence except for the players in a game. Such language embraces cynicism by reducing politics to entertainment.
Democratic balance has slept for 40 years, and we face a world like Rip Van Winkle run backward. We wake up blinking at Tiger Woods, Condoleezza Rice and Barack Obama, while our government demands arbitrary rule by secrecy, conquest and dungeons. King George III seems reborn.
Please resist any partisan connotation. Our problem is far too big for that. Indeed, I think the most pressing challenge for admirers of Dr. King is to recognize our own complicity in the stifling myths about civil rights history. Battered, long-suffering allies of Dr. King discarded him as a tired moderate long before the reactionary campaign to make the word “liberal” a kiss of death for candidates across the country. Similarly, forces called radical and militant turned against liberal governments for taking so long to respond to racial injustice, then for the Vietnam War. Only a convergence of the political left and right could cause such lasting erosion for the promise of free government itself.
Many of Dr. King’s closest comrades rejected his commitment to nonviolence. The civil rights movement created waves of history so long as it remained nonviolent, then stopped. Arguably, the most powerful tool for democratic reform was the first to become passé. It vanished among intellectuals, on campuses and in the streets. To this day, almost no one asks why.
We must reclaim the full range of blessings from his movement. For Dr. King, race was in most things, but defined nothing alone. His appeal was rooted in the larger context of nonviolence. His stated purpose was always to redeem the soul of America. He put one foot in the Constitution and the other in scripture. “We will win our freedom,” he said many times, “because the heritage of our nation and the eternal will of God are embodied in our echoing demands.” To see Dr. King and his colleagues as anything less than modern founders of democracy — even as racial healers and reconcilers — is to diminish them under the spell of myth.
Dr. King said the movement would liberate not only segregated black people but also the white South. Surely this is true. You never heard of the Sun Belt when the South was segregated. The movement spread prosperity in a region previously unfit even for professional sports teams. My mayor in Atlanta during the civil rights era, Ivan Allen Jr., said that as soon as the civil rights bill was signed in 1964, we built a baseball stadium on land we didn’t own, with money we didn’t have, for a team we hadn’t found, and quickly lured the Milwaukee Braves. Miami organized a football team called the Dolphins.
The movement also de-stigmatized white Southern politics, creating two-party competition. It opened doors for the disabled, and began to lift fear from homosexuals before the modern notion of “gay” was in use. Not for 2,000 years of rabbinic Judaism had there been much thought of female rabbis, but the first ordination took place soon after the movement shed its fresh light on the meaning of equal souls. Now we think nothing of female rabbis and cantors and, yes, female Episcopal priests and bishops, with their colleagues of every background. Parents now take for granted opportunities their children inherit from the Montgomery bus boycott.
It is both right and politic for all people, including millions who are benign or indifferent toward the civil rights movement, or churlish and resentful, to see that they, too, and their heirs, stand with us on the shoulders of Rosa Parks, Medgar Evers and Fannie Lou Hamer.
Dr. King showed most profoundly that in an interdependent world, lasting power grows against the grain of violence, not with it. Both the cold war and South African apartheid ended to the strains of “We Shall Overcome,” defying all preparations for Armageddon. The civil rights movement remains a model for new democracy, sadly neglected in its own birthplace. In Iraq today, we are stuck on the Vietnam model instead. There is no more salient or neglected field of study than the relationship between power and violence.
We recoil from nonviolence at our peril. Dr. King rightly saw it at the heart of democracy. Our nation is a great cathedral of votes — votes not only for Congress and for president, but also votes on Supreme Court decisions and on countless juries. Votes govern the boards of great corporations and tiny charities alike. Visibly and invisibly, everything runs on votes. And every vote is nothing but a piece of nonviolence.
SO what should we do, now that 40 years have passed? How do we restore our political culture from spin to movement, from muddle to purpose? We must take leaps, ask questions, study nonviolence, reclaim our history.
What Dr. King prescribed in his last Sunday sermon begins with the story of Lazarus and Dives, from the 16th chapter of Luke. Told entirely from the mouth of Jesus, it is a story starring Abraham the patriarch of Judaism, set in the afterlife. There’s nothing else like it in the Bible.
Dr. King loved this parable as the text for a fabled 1949 sermon by Vernon Johns, his predecessor at the Dexter Avenue Baptist Church in Montgomery. Lazarus was a lame beggar who once pleaded unnoticed outside the sumptuous gates of a rich man called Dives. They both died, and Dives looked from torment to see Lazarus the beggar secure in the bosom of Abraham. The remainder of the parable is an argument between Abraham and Dives, calling back and forth from heaven to hell.
Dives first asked Abraham to “send Lazarus” with water to cool his burning lips. But Abraham said there was a “great chasm” fixed between them, which could never be crossed. In his sermon, Dr. Johns drew a connection between the chasm and segregation.
But according to Dr. Johns, Dives wasn’t in hell because he was rich. He wasn’t anywhere near as rich as Abraham, one of the wealthiest men in antiquity, who was there in heaven. Nor was Dives in hell because he had failed to send alms to Lazarus. He was there because he never recognized Lazarus as a fellow human being. Even faced with everlasting verdict, he spoke only with Abraham and looked past the beggar, treating him still as a servant in the third person — “send Lazarus.”
Dr. King’s sermons drew more layers of meaning from this parable. He said we must accept the suffering rich man as no ordinary, nasty sinner. When refused water for himself, he worried immediately about his five brothers. Dives asked Abraham again to send Lazarus, this time as a messenger to warn the brothers about their sin. Tell them to be nice to beggars outside the wall. Do something, please, so they don’t wind up here like me.
Dr. King said Dives was a liberal. Despite his own fate, he wanted to help others. Abraham rebuffed this request, too, telling Dives that his brothers already had ample warning in Torah law and the books of the Hebrew prophets. Still Dives persisted, saying no, Abraham, you don’t understand — if the brothers saw someone actually rise from the dead and warn them, then they would understand.
Jesus quotes Abraham saying no. If the brothers do not accept the core teaching of the Torah and the prophets, they won’t believe even a messenger risen from the dead. Dr. King said this parable from Jesus burns up differences between Judaism and Christianity. The lesson beneath any theology is that we must act toward all creation in the spirit of equal souls and equal votes. The alternative is hell, which Dr. King sometimes defined as the pain we inflict on ourselves by refusing God’s grace.
Dr. King then went back to Memphis to stand with the downtrodden workers, with the families of Echol Cole and Robert Walker. You may have seen the placards from the sanitation strike, which read “I Am a Man,” meaning not a piece of garbage to be crushed and ignored. For Dr. King, to answer was a patriotic and prophetic calling. He challenges everyone to find a Lazarus somewhere, from our teeming prisons to the bleeding earth. That quest in common becomes the spark of social movements, and is therefore the engine of hope.
Taylor Branch is the author, most recently, of “At Canaan’s Edge,” the third volume in his history of the modern civil rights era. This article was adapted from a speech he gave on Monday at the National Cathedral.
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