Foi Nietzsche quem comecou a "minar a curiosidade (Wille) do saber através da seducäo (Wille) do poder", afirma Sloterdijk na Critica da Razäo Cinica.
Uma falsa pista que ali é colocada - e este é o preco da polémica, que ela deixa demasiadas pistas faltas. Algumas vezes, no entanto, é só a inumerosidade de falsas pistas que desvela o rectilineo do caminho certo (em outras palavras: só pode haver um caminho certo onde infesta de errados).
A falsa pista de Sloterdijk é a mesma falsa pista que Foucault depositou: que nos bastidores do desejo do saber (Wille zum Wissen, curiosidade) vive um enorme crime, que se deseja disfarcar, ou em terminologia politica: Marx leva forcosamente a Estaline e Mao Tse Tung, e Freud obrigatoriamente à lobotomia.
É a interpretacäo possivel do "Sueno de la razon" de Goya näo como sono (abscencia) da Razäo, mas como o sonhar da Razäo (" o sueno - castelhano para sono e sonho - da Razäo produz monstos" titula o Capricho, precisado pelo próprio Goya num comentário: "A fantasia, abandonada pela razäo, produz monstros impossiveis; unida com ela é a mäe das artes e a fonte dos milagres").
Há de facto uma suposicäo esperta, de que o Sono foi uma ironia goyesca, na verdade Goya estava ciente que o Sonho da Razäo causa maiores danos que o Sono da mesma. A figura de Napoleäo e as atrocidades das cruzadas bonapartitas retratadas por Goya permitem, no minimo, esta interpretacäo. Um pré-estudo de Goya para o Capricho 43 tem por titulo "El idioma universal", um projecto do ilumismo, satirizado por Jonathan Swift nas Viagens de Gulliver (para uma transmissäo um por um - a plena equivalencia - teriamos que ir com uma sacola enorme na proxima tasca para poder insinuar uma chavena de café - queriamos vender a chávena? o café? ou até bebe-lo naquela chavena? ou simplesmente inquirir o preco?).
Estas consideracöes reconduzem à pista primordial, à metaforologia de Blumenberg: há pensamentos (teses, teorias, escolas) que se indepentizam e convertem em propriegade publica de todo um circulo cultural (säo um construto holo-social, a morte do autor). Tanto o Sueno de Goya como o pensamento do Querer para o Saber como curiosidade do Saber, que conduz ao Querer para o Poder-Ser como Desejo do Poder é uma interpretacäo metaforológica.
Notas:
Wille, o querer, o desejo, inclui em alemäo o conceito do "querer", a vontade consciente - coisa esquisita esta -, e o "desejar", algo mais profundo, mais distante, menos eu, mais exogéneo. É um sinonimo da rotacäo continua de todas as coisas - genocidios incluidos? -, a afirmacäo absoluta, para além do Bem e do Mal.
Uma das propostas da traducäo do "Wille zur Macht" nietscheniano foi "vontade de potencia", o que traduz a intencäo mais provável de Nietzsche . Vontade de potencia equivale ao näo temer o possivel (o poder-ser), o eterno regresso: "tudo vai, tudo regressa, eternamente rola a roda do Ser. Tudo morre, tudo floresce novamente, eternamente corre o ano do Ser" (Assim falava Zaratustra).
"Näo acertou na verdade aquele que disparou a palavra do 'vontade do Ser' (Wille zum Dasein): esta vontade - näo existe!
Porque: o que é, näo pode querer; mas aquilo que está no Ser (Dasein, estar-aí), como poderia isto querer ainda ser?
Só onde está vida, está também querer: mas näo querer a vida (Wille zum Leben), mas sim (...) querer o poder (Wille zur Macht, a possibilidade de ser)".
LINKS:
Jorge Luis Borges: El idioma analítico de John Wilkinks
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