traducäo provisória
com anotacöes e tudo, assim se cria uma traducäo...
Deuses emigrados
Dizia Epicuro, que os deuses viviam nos intervalos [C1] entre os Mundos[C2] .
Com isso conseguiu duas coisas: Os deuses não se preocupavam com os Mundos, tinham-lhes virado as costas e conseguiam[1] assim alcançar a sua feliz despreocupação[2] ; mas se eles não se preocupavam[3], não necessitava também o ser humano de se preocupar[4] com eles, pois deles nada tinha a esperar. Entre os mundos estava o espaço vazio, e espaço vazio era para os gregos a única possibilidade de se imaginar o Não-Sendo, de tal modo, que aquilo que lá habitava, paradoxalmente ao mesmo tempo nem sequer existia.
Já não temos mais a teologia de Epicuro. Estamos portanto livres, para imaginarmos nós mesmos, como se chegou à estadia arriscada dos deuses nos inter-mundos[5]. Porque, pressupor que hajam aí vivido desde os primórdios, seria certamente um menosprezo da história, que aí é narrada. Não referindo sequer, que os gregos não se teriam deixado transferir os seus Deuses residentes no Olimpo por uma mera afirmação no espaço vazio, se não houvesse para tal uma história sólida.
Julgo Epicuro capaz de haver narrado esta história algures na sua teologia. Segundo ela, os Deuses teriam abandonado a terra e o cosmos, para se retraírem nesses tais espaços infinitamente vazios, perante os quais Pascal muito mais tarde viria a atemorizar-se.
Mas porque razões haviam eles partido? No Olimpo haviam tido uma vida plena de comodidades: néctar, ambrósia, desentendimentos subtis sobre as questões dos seres humanos lá em baixo e, através da sua arte da metamorfose, o acesso a qualquer momento, ao enriquecimento do prazer terrestre. Não havia razão para sair.
Ou sim? Terá que haver penetrado no seu monte encoberto em nuvens uma noticia, uma mensagem, que os desconduziu, a residir ali, e a olhar para baixo, com a simplicidade [5b] de Deuses que haviam imaginado a única.
Epicuro sabe, qual noticia foi, e converteu-a no triunfo da sua filosofia atomística: há muitos mundos, infinitamente.
Então, tudo o resto se desenrola por si mesmo. Em nenhum destes mundos os Deuses houveram podido suportar, porque eram todos iguais entre si e nenhum podia oferecer uma vantagem, que o houvera antes de outros tornado digno do estabelecimento dos Deuses. Assim, moveram para a pureza da indiferença do espaço vazio.
Não se poderá interpretar a história, como se os deuses somente através de um filosofo da escola atomistas como Demócrito ou Epicuro os Deuses houveram sido leccionados, de que o mundo então até lá por eles dominado só era um por entre infinitamente muitos. Houvera a sua sapiência dependido dos filósofos, necessitariam somente haver acreditado ao Aristóteles, que havia encontrado as razões mais sublimes para a unicidade deste cosmos, em que tudo o que é, tem o seu lugar. Como Plato ao Demócrito, assim transpôs Aristoteles com a sua influencia póstuma os mundos de Epicuro. Por ultimo através do Deus, que a si mesmo se havia contradito, haver criado e ter que salvar mais que um mundo.
Não, os olímpicos têm previamente haver tido conhecimento da grande verdade da não-singularidade deste mundo. Quando os filósofos chegaram e começaram a ensina-lo infrutiferamente, já o efeito dos Deuses sobre os Humanos tinha de tal forma atenuado, que só se pode explicar com a partida já concluída para os espaços entre os mundos. Foi Epicuro, que aí novamente os encontrou e que até pode esclarecer, porque somente aí eles poderiam estar, se tal fora possível.
O único, que lhe restou da sua pátria helénica, e o que também por mais tempo dos seus países resta aos seres humanos e os converte em estranhos no estrangeiro: a língua. Ainda longe de todos os mundos, nos inter-mundos, mantêm os Deuses as suas conversas infinitas – grego. Epicuro ouviu-o. Porque nada se perde no seu mundo atomístico: as imagenzinhas não, que se soltam de tudo e perpetram o espaço, para em nós se converterem em conhecimento, e não as palavras faladas. Em que também se poderia converter, o que não fica?
[1] Verschaffen: conseguir, arranjar, proporcionar (eu havia colocado lograr)
[2] Sorglosigkeit: sossego, descanso, descuido
[3] Sorgen um: inquietar com (CA org. preocupavam)
[4] Ver nota 3
[5] Nesta frase surge mais evidente falar em intervalos entre os mundos (inter-mundos) e não em espaços
[5b] Einfalt: simplicidade, ingeninuidade (com alguma conotacäo perjurativa, aquilo que que é "simplorio")
[C1]É que intervalo pode ser temporal ou sonoro e este aqui é espacial
[C2]Com letra grande? Näo demasiado pretencioso?
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
HANS BLUMENBERG: Deuses emigrados
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da pesada
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