captacäo de benevolencia: figura retorica em que o orador tenta assegurar-se da simpatia do receptor, servindo-de de expressöes aduladoras, hoje em uso inflacionário. Exemplos: "Estimados Srs., prezadas Sras" com que comecamos todas as nossas cartas, "Caros participantes, é com o maior orgulho e regozijo que usufruo da possibilidade de dirigir-lhes aqui a minha palavra". Desculpas, risos, entre-risos.
Na Grecia classica desconhece-se a captacäo de benevolencia. Exaltavam-se os deuses, adulavam-se as musas, evocavam-se as ninfas; aos (co)humanos dirigia-se a palavra. Näo se buscava a benevolencia, mas a atencäo, por isso os dialogos socraticos comecam com "oh, tu grande Socrates!", "oh, esbelto Alcibiades". Socrates inicia a sua apologia (aquela em defesa propria perante o Tribunal que o condenou à morte) com uma acusacäo de captatio benevolentiae aos seus juizes.
O que a vós, vós atenenses, os meus acusadores vos fizeram, näo sei. Eu, pela minha parte, quase que me esqueci de mim devido a eles, täo eloquentemente falaram.
Também na Roma antiga, é inhabitual o uso da mesma figura. Onde se poderia subentender captacäo de benovolencia, le-se adulacäo do regente ou seus representantes, sarcasmo em evidencia "E Brutus é um home honrado" repete com persistencia Antonius em tom de acusacäo contra um dos assassinos de Cesár, seu amigo.
A captacäo de benevolencia, como o Kitsch moderno, é a degeneracäo massificada do nobre. Talvez que a nossa era, aquela que os nossos corpos partilham, mereca dos vindouros o cognome de captacio benevolentiae. Constante nas mensagens dos politicos, nos canais televisivos, no rádio, acabou por invadir o nosso dia a dia, as relacöes outrora amistosas, o nosso interior. Significa hoje em dia näo mais a submissäo ao regente, mas o fim do espirito expedicionário, do prazer do incerto, da seducäo de novas paragens. Isto, vindo de um descente em linha directa de Vasco de Gama e Fernäo de Magalhäes, acrescenta uma nota trágica à questäo.
Há uma outra interpretacäo possivel, que no fundo vai dar no mesmo: é a do barroco interiorizado (a forma pela forma, o efeito pelo efeito, o Nada em tudo, o aplauso continuo), o manuelino em lexigrafia lusa.
Na Grecia classica desconhece-se a captacäo de benevolencia. Exaltavam-se os deuses, adulavam-se as musas, evocavam-se as ninfas; aos (co)humanos dirigia-se a palavra. Näo se buscava a benevolencia, mas a atencäo, por isso os dialogos socraticos comecam com "oh, tu grande Socrates!", "oh, esbelto Alcibiades". Socrates inicia a sua apologia (aquela em defesa propria perante o Tribunal que o condenou à morte) com uma acusacäo de captatio benevolentiae aos seus juizes.
O que a vós, vós atenenses, os meus acusadores vos fizeram, näo sei. Eu, pela minha parte, quase que me esqueci de mim devido a eles, täo eloquentemente falaram.
Também na Roma antiga, é inhabitual o uso da mesma figura. Onde se poderia subentender captacäo de benovolencia, le-se adulacäo do regente ou seus representantes, sarcasmo em evidencia "E Brutus é um home honrado" repete com persistencia Antonius em tom de acusacäo contra um dos assassinos de Cesár, seu amigo.
A captacäo de benevolencia, como o Kitsch moderno, é a degeneracäo massificada do nobre. Talvez que a nossa era, aquela que os nossos corpos partilham, mereca dos vindouros o cognome de captacio benevolentiae. Constante nas mensagens dos politicos, nos canais televisivos, no rádio, acabou por invadir o nosso dia a dia, as relacöes outrora amistosas, o nosso interior. Significa hoje em dia näo mais a submissäo ao regente, mas o fim do espirito expedicionário, do prazer do incerto, da seducäo de novas paragens. Isto, vindo de um descente em linha directa de Vasco de Gama e Fernäo de Magalhäes, acrescenta uma nota trágica à questäo.
Há uma outra interpretacäo possivel, que no fundo vai dar no mesmo: é a do barroco interiorizado (a forma pela forma, o efeito pelo efeito, o Nada em tudo, o aplauso continuo), o manuelino em lexigrafia lusa.
Sem comentários:
Enviar um comentário