domingo, 21 de junho de 2009

curiosidade e lobotomia...

Foi Nietzsche quem comecou a "minar a curiosidade (Wille) do saber através da seducäo (Wille) do poder", afirma Sloterdijk na Critica da Razäo Cinica.

Uma falsa pista que ali é colocada - e este é o preco da polémica, que ela deixa demasiadas pistas faltas. Algumas vezes, no entanto, é só a inumerosidade de falsas pistas que desvela o rectilineo do caminho certo (em outras palavras: só pode haver um caminho certo onde infesta de errados).
A falsa pista de Sloterdijk é a mesma falsa pista que Foucault depositou: que nos bastidores do desejo do saber (Wille zum Wissen, curiosidade) vive um enorme crime, que se deseja disfarcar, ou em terminologia politica: Marx leva forcosamente a Estaline e Mao Tse Tung, e Freud obrigatoriamente à lobotomia.
É a interpretacäo possivel do "Sueno de la razon" de Goya näo como sono (abscencia) da Razäo, mas como o sonhar da Razäo (" o sueno - castelhano para sono e sonho - da Razäo produz monstos" titula o Capricho, precisado pelo próprio Goya num comentário: "A fantasia, abandonada pela razäo, produz monstros impossiveis; unida com ela é a mäe das artes e a fonte dos milagres").
Há de facto uma suposicäo esperta, de que o Sono foi uma ironia goyesca, na verdade Goya estava ciente que o Sonho da Razäo causa maiores danos que o Sono da mesma. A figura de Napoleäo e as atrocidades das cruzadas bonapartitas retratadas por Goya permitem, no minimo, esta interpretacäo. Um pré-estudo de Goya para o Capricho 43 tem por titulo "El idioma universal", um projecto do ilumismo, satirizado por Jonathan Swift nas Viagens de Gulliver (para uma transmissäo um por um - a plena equivalencia - teriamos que ir com uma sacola enorme na proxima tasca para poder insinuar uma chavena de café - queriamos vender a chávena? o café? ou até bebe-lo naquela chavena? ou simplesmente inquirir o preco?).
Estas consideracöes reconduzem à pista primordial, à metaforologia de Blumenberg: há pensamentos (teses, teorias, escolas) que se indepentizam e convertem em propriegade publica de todo um circulo cultural (säo um construto holo-social, a morte do autor). Tanto o Sueno de Goya como o pensamento do Querer para o Saber como curiosidade do Saber, que conduz ao Querer para o Poder-Ser como Desejo do Poder é uma interpretacäo metaforológica.


Notas:
Wille, o querer, o desejo, inclui em alemäo o conceito do "querer", a vontade consciente - coisa esquisita esta -, e o "desejar", algo mais profundo, mais distante, menos eu, mais exogéneo. É um sinonimo da rotacäo continua de todas as coisas - genocidios incluidos? -, a afirmacäo absoluta, para além do Bem e do Mal.
Uma das propostas da traducäo do "Wille zur Macht" nietscheniano foi "vontade de potencia", o que traduz a intencäo mais provável de Nietzsche . Vontade de potencia equivale ao näo temer o possivel (o poder-ser), o eterno regresso: "tudo vai, tudo regressa, eternamente rola a roda do Ser. Tudo morre, tudo floresce novamente, eternamente corre o ano do Ser" (Assim falava Zaratustra).
"Näo acertou na verdade aquele que disparou a palavra do 'vontade do Ser' (Wille zum Dasein): esta vontade - näo existe!
Porque: o que é, näo pode querer; mas aquilo que está no Ser (Dasein, estar-aí), como poderia isto querer ainda ser?
Só onde está vida, está também querer: mas näo querer a vida (Wille zum Leben), mas sim (...) querer o poder (Wille zur Macht, a possibilidade de ser)".

LINKS:
Jorge Luis Borges: El idioma analítico de John Wilkinks

domingo, 7 de junho de 2009

O numero limiar (Emile Borel)

Um grao näo constitui um monte, täo pouco dois gräos, nem três e assim por diante. Por outro lado, todos concordaräo que cem milhoes de graos de trigo formam um monte . Qual é entäo o numero limiar? Podemos dizer que 325.647 graus de trigo näo constitutuem um monte, mas que 325.648 sim? Se é impossivel estabelecer um numero limiar, também será impossivel saber o que é significado por um monte de trigo; as palavras podem näo ter sentido, no entanto, em certos casos extremos todos concordam sobre elas.
Emile Borel: Probabilite et certidude
NOTAS:
Limiar:Limes (limes, limitis) foi a separacäo sólida entre o Império Romano e a Barbaridade (entre o Reno e o Danubio) - foi a fronteira intrespassavel no unico espaco romano näo rodeado por água. Está, evidentemente, na origem etimologica do "limite"  das linguas romanicas.
Discute-se todavia se o limes em si era parte ou já o Além-de do Império Romano - Tarkowsky, em Stalker, insinua, que näo existe o Além-de, ao qual ele chama "A Zona" - seria o espaco no qual todos os desejos se converteriam em realidade, a felicidade absoluta, e que täo pouco existe o Limite (näo passa de uma ficcäo necessária, para proporcionar a felicidade).

LINKS:

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Politica e Desverdade (é só brincadeira)...

Politica e Desverdade

Politica da Verdade

Um ex-politico do PC passeia-se nas hostes dos seus antigos co-rrelogionários: Para quê?

Peer Steinbrück, Ministro das Financas na RFA: “Näo haverá aumentos nos impostos” - Chanceler alemä convence cristäos-democratas a prometer reducöes dos impostos, para todos...

 

Pode-se pressupor como do conhecimento geral, que a verdade näo existe. Gracas a Deus acrescentam alguns cérebros mais prudentes – que onde a verdade ainda era enquadrada em palavras, sempre foi pronunciada em acto único e jamais discursivo (monocursivo é o sermäo, aquilo que se ouve por forca e obrigacäo, discursivo é o ping-pong das ideias e opiniöes, é a Ágora, a praca publica) pelo poder dominante (um parentesis para insinuar a justica de forca em detrimento da injustica do Poder), respectivamente pelos seus mandatários. Para apurar este feito, näo necessitamos nem Nietzsche, que incessante o proclamou, quase em mania, nem a Teoria dos Jogos da Linguagem de Wittgenstein (“o falar de uma linguagem é parte de uma actividade, ou de uma forma de vida”), täo pouco da sabedoria historica generalizada.

Mas entre a verdade e a mentira lustrada (uma mentira, que passa despercebida, sem vestigios, que omite as condicöes da sua origem e oculta as intencöes do seu efeito; simultaneamente uma mentira que insiste, que foi apenas o sujeito enganado que ali escorregou) encontram-se inumeros mundos do possivel: näo é, por tal,  necessário mentir sempre, onde apenas näo se quer dizer a verdade.

Quando por sistema a mentira prevalece no leque das modalidades da omissäo da verdade, convém postar-se em cautela: estamos entäo no Império das Ilusöes (o que em si näo significa algo de condenável, como se existesse algo de “condenável em si”...). Triste sim poderia ser, que a esta uma vida, que vivemos exaustivamente como ilusäo, talvez pudessemos ter dado uma outra forma – quicas com maior expelicäo de morfinas endogénicas, mais simplesmente dito: com maior teor de felicidade.

A verdade foi para a Politica sempre pensada como degrau na escada caminho arriba, näo cursus honorum mas sim illudo ergo sum (iludo, por tal existo), sempre mais algo a ser feito, e muito menos algo a ser dito: “faz o que eu digo e näo digas o que eu faco” (por fraude e insensatez a lingua denomina “maquiavélico” precisamente o pronunciar desta  constatacäo). De outra forma a Politica, o viver indeliberadamente em comunidade, é impensável. A verdade seria sempre que, e aqui seria condiscente um recurso a Nietzsche, a vida na polis significa sempre „viver apesar de”, equivale ao “sobreviver antes de”  e ao “afinal porque näo?”: uma infima vantagem na educacäo dos filhos, um safir pretenciosamente insignificante para a mais querida, uma refeicäozita algo mais vantajosa.

Teria-se que, se se pudesse, medir os politicos näo numa escala de verdade, mas numa escala bordada e florida, rotulada no bordo superior „descaramento “e no inferior „com a graca, que o feito de ser humano me facilita“.

Se existe uma diferenca entre a „desverdade politica“ cesariana e a nossa, a pós-burguesa, a moderna?

Primeiramente aquela, é o Imperador quem cria a verdade, ao „dize-la“. A dicotomia näo é verdade e mentira, mas sim verdade e submissäo. Também o escravo imperial, o filósofo de casa, a esposa, a hetara e a concubina, outras etnias e habitantes de outras paisagens teräo tido as suas próprias “verdades”, mas quando a verdade imperial e a näo-imperial colidiam, näo era o seu mais de “verdade” que era investigado – esta foi a invencäo da Inquisicäo – mas era uma que se sobrepunha, sem excepcäo através da violencia (por mais que haja vindo sorrateiramente em forma de submissäo, como a verdade cristä).

O Tirano perdura enquanto a massa nele anteveja a corporizacäo mais sensata e eficiente dos desejário colectivo. Aomomento em que é manifesta a incapacidade do Imperador em aviar o icone do „mais“ (mais terra, mais mulheres, mais cereais, mais circo e mais päo, mais seguranca, mais progresso colectivo), está lacrado o seu ocaso. Este, à parte, o paralelismo que Hitler, Mussolini e todos os ditadores do século XX discerniram no horizonte do seu futuro: o Império Milenário, os Impérios coloniais, os Fascios (feixes), por fim também aquilo em que se converteram as utopias sociais. Todos os Imperadores imperam enquanto a massa o possibilita, enquanto nela anteveja a forma mais eficiente da sua ascencäo. A derradeira estratégia dos Imperadores contra o seu destino foi declarar o rebolico geral contra inimigos reais ou imaginados (em Outubro de 1944, a 150 dias do seu suicidio, Hitler decretava o “povo em tumulto” (Volkssturm), inserindo criancas e velhinhos, tortos e aleijados na tormenta colectiva). A talvez mais fatidica vinganca dos Imperadores é desfazer-se de todos aqueles que näo compreendem, para finalmente eles mesmos poderem entender o mundo.

O politico moderno, pelo contrário, näo corporiza sonho algum (como se a humanidade houvera perdido a nocäo do sonhar), pratica a sua vida sob a mirada do público. O politico moderno é um servidor do sistema, que opera sem querer originar, que näo se responsabiliza nem é resposabilizado pelo sentido ou consequencia dos seus actos (o simples soldado em Abu Ghreib é condenado a 20 anos de prisäo, impune pelo contrário toda a linha de obediencia que o conecta à presidencia estado-unidense).

E os sonhos convertidos realidade (o movimento ecologista, as democracias sul-americanas, eleicäo de Obama, os politicos simpáticos à la Lula) säo os sonhos despojados.

A segunda grande diferenca entre César e o Politico Moderno: quando a verdade imperial era vivida como simples supersticäo, era a vez do imperador pagar pelos seus actos (a impossibilidade da concretizacäo definitiva dos sonhos da massa) – o destino comum dos imperadores romanos, como dos arlequins fachistóides do século XX e do resto dos ditadores näo fascistas. A corporizacäo da esperanca da massa era entäo eliminada, com regularidade fisicamente. O politico moderno, pós-burgues, näo tem mais que temer a integridade fisica. Também ele “inventa” desverdade com perfeita lubrificacäo, mas näo tem mais pudor publico, näo recorre mais ao punhal ou ao cálice de cicuta para repor a honra.  Abdica ou é des-eleito, e vai andando, regressa à massa protectora.

Se os imperadores e os politicos säo objectos da público (o termo moderno para „massa“), terá que haver sucedido algo com o publico, que iniciou esta viragem (do instante em que o insucesso era contabilizado com a própria vida para o momento em que a vida só vale a pena ser vivida depois do fracasso – a “re-forma”).

Poderiamos colocar o ponto de viragem na Inquisicäo (existe uma verdade, e esta verdade pode ser extraida, se necessário na fogueira e na camara de instrumentos – esta imagem da domesticacäo do diabo perante as máquinas de tortura tem algo de patético e comovente). Tem também o seu quê de mal estar e desconforto que sejam os próprios sucessores da Inquisicäo que hoje vendam a camara de instrumentos como melhoramento nas condicöes de ser da humanidade. O estandarte da tortura e do crime sempre foi uma representacäo de Deus e só na imaginacäo literária o crime “gratuito” (que näo tem preco, plenamente despojado de intencäo) é obra do Diabo.

E a atracagem deixa-se bem realizar na primeira Declaracäo dos Direitos Humanos: se todos os seres humanos säo iguais, maior probabilidade que sejam os meus próprios sucessores o futuro icone dos sonhos colectivos – compreensivel que näo deseje para a minha procria biológica o destino de um Nero, de um Julio César ou um Cidadäo Louis Capet – é só brincadeira, criancas! Brinco, do latim, illudo, in ludere, para: brincar em, atirar brincando, lancar os dados, estar em jogo...

quarta-feira, 11 de março de 2009

a náusea e um suave sorriso...

Fisicamente a náusea realiza-se, quando as paredes do estomago säo irritadas. Acontece que há também emocöes, uma tentativa, de expelir também algo do ambito das posses da alma(...). É um trejeito do afastamento. As caretas significam a condenacäo das imediacöes, um resolver a situacäo no sentido de uma rejeicäo.
Alfred Adler, Conhecer o ser humano
Quando eu, adolescente, li pela primeira - e ultima - vez A náusea de Jean-Paul Sartre (o meu primeiro encontro intectual com a náusea), conseguia pelo menos imaginar essa irritacäo (sensibilizacäo) das paredes do estomago; hoje (também no convivio real com as formas de expressäo humana que causam esse afecto) fica só um sorriso, como suave recordacäo desses tempos e dessa irritacäo do passado.

terça-feira, 3 de março de 2009

do bonito das coisas bonitas

"Os homens amam o que desejam e as mulheres desejam o que amam", eis um bom exemplar daquilo que poderiamos apelidar de "uma frase bonita" - esta, que inclui a outra, pelo contrário, um otimo exemplo de uma näo bonita.
É o lema de capa ou contra-capa, de um livro que me ofereceu a minha namorada comprometida, com a gentileza de näo colocar dedicatória, como sou um homem poli-comprometido, cujo titulo insinua um mapa ou uma descricäo de percurso: "Onde Reside o Amor" de Margarida Rebelo Pinto. É um livro muito bonito também (isto quer implicar que poderá haver livros que contenham muitas frases bonitas, mas näo sejam livros bonitos - este parentesis requer uma explicacäo que segue mais tarde), um livro de amena digestäo, escrito por uma senhorita queque e alfacinha (esta fixacäo de "queque e alfacinha" é a minha visäo dos anos 70 da mullher emancipada: atrevida - este o siginificado do keck em alemäo -, sensual, independente, responsável com ligeireza nas saias curtas).
Regressando ao moto inicial, ao "os homens que amam e as mulheres que desejam" - é uma frase escandalosamente simples, que näo requer explicacöes adicionais, daquelas sentencas que comumente citamos afirmando: "Como já dizia a minha avó", ou "como bem sabia o meu avô" ou "já a minha tia previa". E, aí nasceu a minha suspeita: Porquê essas frases que com frequencia cremos que houveram poder sido postuladas pelos nossos ancestrais menos complexos e mais ligados à vida, em toda a generalidade säo expressas por pessoas que só säo menos complexos no sentido que depassaram essa complexidade, transmitindo conteudos complexos em frases simples? Porquê, entre as pessoas que nos transmitem essas frases que podiam ser dos nossos pais, ou bisavós ou sei lá eu o quê, figuram nomes como Fernando Pessoa (figura altamente erudita e poliglota), Chico Buarque (familia de enciclopedista, sociologos, intelectuais), Erwin Schrödinger (o tal da mecanica quantica), Richard Feynman e por aí fora? E por que razäo dos meus avós, senhores que compartilhavam a noite com a natureza entre lobos, caes da Serra, cabras e ovelhas - näo me recordo dessas frases?
Li há algum tempo de um pensador moderno que sob o efeito de estupefacientes ficava atonito da simplicidade e da clareza do mundo, e mais atonito pelo esquecimento do porquê dessa justificacäo do mundo constantemente conjugado com o findar do efeito do estupefaciente. Até que um certo dia antes de acender as primeiras passitas, colocou um caderno e uma esferografica à mäo para anotar a quinta-essencia do mundo, quando ela lhe viesse, o que näo se fez esperar.
No dia seguinte depois da ressaca, abriu a sua sebenta e encontrou a razäo de ser de todas as coisas, que havia anotado no dia anterior: "Tudo no mundo tem um odor parecido ao petróleo".

Um livro näo é aquela coisa geralmente mais comprida que larga, encadernada. com as folhas cortadas a prumo. Um livro é aquilo que sucede entre essa coisa encadernada e a cabecinha através de cujos olhos as palavras nele impressas se re-produzem de pernas para o ar. No fundo, nem uma reproducäo é, mas sim um jogo, um cintilar que efectua entre os dois - entre o livro e o seu leitor. Este é um tema de Jorge Luis Borges, näo há livros bonitos em si, nem leitores feios em si, há juncöes malogradas e há juncöes sucedidas. O livro certo na pessoa certa, aí reside a literatura. É um tema de Blumenberg também, "ler é escrever", e, mais remotamente, o tema da fenomenologia - ter consciencia de näo é aperceber qualquer coisa exterior ao perceptor, mas sim preencher a distancia que está entre ambos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

a invencäo do eu no amor enquanto paixäo

O amor romantico (o amor enquanto paixäo), aquele das cartas infinitas, dos telefonemas intermenináveis, dos  coracöes derretidos, é um fenónemo da época moderna, diz N. Luhmann.
"Näo é um sentimento, mas um código de comunicacäo, sob cujas regras podemos expressar sentimentos, construir, simular, suspeitar de outrem, negar(...), é um modelo de comportamento, que pode ser representado, que está à nossa vista, antes de embarcarmos partindo em busca do amor".
Amor enquanto paixäo é um "meio de comunicacäo simbolicamente generalizado", que torna provavel uma comunicacäo improvável.
Porquê "comunicacäo improvável"? Porque uma "autentica" comunicacäo é impossivel. O outrem para além do meu eu é infinitamente inacessivel, para além do meu Eu (que nem Freud, nem Marx, nem a mecanica quantica até hoje me conseguiram dizer quem ele é) Ding-an-Sich kantianos sem fim.
O amor enquanto paixao baixa o limiar do "autentico" nessa comunicacäo impossivel, permite uma simulacäo de "autenticidade", ou, nas palavras do proprio Luhmann "as pessoas reduzem o limiar de relevancia no relacionamento entre elas, com a consequencia de que aquilo que é relevante para um é quase sempre também relevante para o outro."
Porquê um "fenómeno da época moderna"  e näo uma constante da condicäo humana, ou uma constante da vida? Porque ali, na burguesia do seculo XVIII se alicerca a diferenciacäo funcional dos nossos dias, em que o individuo se encontra numa "policontexturalidade comunicativa" que dificulta a interacäo germinadora de identidade e inventa o recurso à intimidade, ao amor enquanto paixäo, "disposicöes semanticas que possibilitam apesar de tudo o sucesso de comunicacöes improváveis. 'Posibilitar o sucesso' significa: aumentar a susceptibilidade de comunicacäo de forma que se ousa a comunicacäo näo a abandonando à partida como ilusória".

Näo é o "sentimento" (que é subjectivo e instrasmissivel), mas o código de comunicacäo -o dispositivo semantico gerador de sentido - que é compreensivel, porque objectivavel e historicamente observavel (nas cartas de amor, na poesia, nas literaturas) que é o tema.
Amor enquanto paixäo, o amor dos nossos dias, é o amor passivo, do qual somos "vitimas", o qual näo podemos evitar. O (in-)dividuo que se descobre como ser divido em inumeros papéis, procura a sua identidade (como totalidade, como in-dividuo), cria o seu sentido, baixa o limiar de relevancia, e re-encontra-se, cria-se ou, mais nietzscheniano, inventa-se.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

teleologia..

tudo tem uma finalidade, dizia Aristoteles, e nominou-a Telos, a causa final (causa finalis). A finalidade de um rato é uma refeicäo nos dentes de um gatinho, e consta que a finalidade de um paio de Trás-Os-Montes reside numas Tripas à Ribeira.
Mrs. Goldstein was walking down the street with her two grand-children. A friend stopped to ask her how old they are. She replied: "The doctor is five, the lawyer ist seven."
Cathcart & Klein, Plato and a Platypus Walk into a Bar
A Sra. Manela ia descendo da Sé para a Ribeira com os seus dois netos. Uma amiga parou para perguntar a idade das criancas. Ela respondeu: "O doutor tem cinco, o advogado sete."