quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

HANS BLUMENBERG: Os Nomes dos Juizes dos Mortos

versäo provisória
Bem, este Sócrates, que sempre afirmou de si, nada mais saber para além de nada saber, sabe até os nomes dos juízes no Tribunal sobre os Mortos: Minos, Rhadamanthys, Aiakos e Triptolemos. Nomeia-os na sua "Apologia" no mito, com o qual fecha o diálogo "Gorgias", o único mito, seja dito, ao qual Platão concede toda a verdade do Logos.
O mito do Tribunal dos Mortos tem um mito próprio da sua transição. O julgamento nem sempre foi somente realizado pelos mortos. Como muitas outras coisas, também isto havia sido alterado com a substituição das gerações de Deuses, de Cronos e seus titãs para a de Zeus. No limiar dos tempos titânicos os seres humanos foram, no dia da sua morte, julgados por juízes humanos e, segundo a constatação, enviados para a lha dos Abençoados ou para o Mundo Inferior das Sombras. Quando Zeus assumiu o domínio, havia, como geralmente sucede nos câmbios de poder, queixas sobre sentenças injustas, falta de perspicácia dos juízes.
O novo Deus criou um novo processo e deixou somente os defuntos serem julgados por juízes, igualmente retirados da vida e das suas parcialidades. Existe então a mera transparência. Todos os invólucros caíram, a nudez está perante a nudez, nenhuma retórica logra exercer influência sobre o Tribunal. É a exposição mítica da vitória da crítica socrática sobre a retórica sofística, que só podia dominar sob as condições de opacidade do corpo.
O dogmatismo cristão só em parte anulou o mito da reforma judicial de Zeus. Também para a escatologia teológica é decisivo que o crente saiba o nome do seu Juiz. Pertence às subtilezas deste capítulo dogmático que não é o Pai Criador do mundo que preside ao Grande Tribunal, mas o Filho: o filho de humanos de Nazaré, que prometera o seu regresso das nuvens celestes no dia do Juízo. Os destinatários desta promessa, ainda vivos eram originariamente aqueles que perante Ele teriam de comparecer. Só mais tarde, com o adiamento do fim do mundo, seriam aqueles, que ainda jaziam nos seus corpos, ressuscitados pelo toque das trombetas do Tribunal.
O rigorismo da ideia de Tribunal surge suavizado através da corporeidade em ambos os lados, como o comum entre o Deus Juiz tornado humano e aqueles a perante ele serem julgados. De qualquer forma, a sentença judicial estava já fixada no Livro da Vida. Como as sentenças absolutórias que o Apóstolo na Carta aos Romanos deixa garantidas na crença da morte e ressurreição do Salvador. Esta ideia da justificação como pressuposta absolvição relaciona-se com a convicção do Fariseu fiel à lei de que receio de punição e esperança de pagamento corrompem a orientação do cumprimento das leis. Resta finalmente colocar a questão, se com estas transformações da ideia originária se esgotaram as suas possibilidades. Se assim tivesse sido, Nietzsche não teria podido acrescentar a sua importante variante com o título clássico de “viagem pelo Hades”: O ainda vivo vê-se sob o olhar de Juízes de Mortos por ele próprio escolhidos. Ele existe e julga-se no seu presente imaginado segundo os parâmetros destes. Também ele, como Ulisses, houvera estado no Mundo Subterrâneo e estará ainda com frequência, participa Nietzsche de si mesmo. Nisso houvera elegido quatro pares de nomes, pelos quais quisera deixar ditar-se o justo e o injusto: O que eu simplesmente diga, decida, para mim e para outros pense: nesses oito fixo os meus olhos e vejo os seus olhos fixos em mim.É o pensamento que, na época da individualidade, se tornou possível, de que se elejam para Juízes dos Mortos aqueles que lhe são ou poderão vir a ser mais próximos na determinação do seu próprio. Será então um mito da ética como decisão para, e sobre, cada existência. Talvez ela nem sempre chegue tão decidida e tão abrangente aos seus nomes, como sucede com Nietzsche. Ele evoca para si: Epicuro e Montaigne, Goethe e Spinoza, Platäo e Rousseau, Pascal e Schopenhauer.
A atenção vai para o posicionamento das figuras e não para os conteúdos do seu pensamento. mira está a posição das figuras, não os conteúdos do seu pensamento. De outra forma Platão não poderia estar aí; e também não Pascal e também Rousseau não. Se Epicuro é nomeado em primeiro não é por mera casualidade, porque foi ele quem introduziu o pensamento elementar no mundo do seu jardim-escola ao, numa carta, inventar a formula do imperativo: Sic fac omnia, tamquam spectet Epicurus! Traduzindo livremente e apoiando-se no formulário do imperativo categórico de Kant: comporta-te de forma, a que a máxima do teu comportamento, seja aprovada por Epicuro.Um paradoxo poderá persistir na coisa: Talvez se precise uma vida inteira, para encontrar os nomes dos seus Juízes dos Mortos - a mesma vida, para a qual se houvera necessitado já tê-los encontrado, para ser aquele, que se houvera pretendido ser, para ser dignificado no seu juízo. Não basta portanto encontra-los e nomeá-los, mas sim também faze-lo a justo tempo. Para isso talvez seja conveniente, não cocmeçar muito tarde com a filosofia. O paradoxo reconduz a Sócrates.
Hans Blumenberg: A Completitude das Estrelas
Traduzido do original (Die Vollzähligkeit der Sterne) por Carlos Aguilar.
Cristina Pombo colocou os pontos nos is e as cedilhas nos seus lugares, deu umas quantas voltas na sintaxe sem as quais o texto teria ficado legivel, mas imcompreensivel. `Brigado, Tina

Hans Blumenberg: A Completitude das Estrelas

Traduzido do original (Die Vollzähligkeit der Sterne) por Carlos Aguilar.
Cristina Pombo colocou os pontos nos is e as cedilhas nos seus lugares, deu umas quantas voltas na sintaxe sem as quais o texto teria ficado legivel, mas imcompreensivel. `Brigado, Tina

NB:
Blumenberg escreve literalmente no segundo parágrafo: "O julgamento nem sempre foi somente realizado sobre os mortos". Intendido terá sido certamente "pelos" e näo "sobre os".

NOTAS PESSOAIS:
Algumas notas para, primeiramente, simplificar, e daí, complicar, e a partir de cada uma das simples complicações novamente multiplicar (a vida é um vídeo e não uma foto; uma foto é uma aberração sem vida).Nota da nota:simplificar, não dobrar, a raiz remete para o latim simplex, em alemão, einfältig = uni dobrado (mais correcto seria, não dobrado, ohne-, un-fältig, como no latim sine, embora o Langenscheid afirme que remete não para o latim sine, mas sim para o indo-europeu sem ("um"). A raiz mais esclarecedora encontra-se no francês plier (dobrar). Complexo, compliqué, vielfältig, com dobra(s). Simplificar, complicar, multiplicar, e em cada produto dessa multiplicação um novo simplificar, como eterno retorno, a roda viva, a vida.
Logos:
Razão, Verbo (palavra), discurso oral/verbal e escrito, sentido, referencial às ideias (Platão).
Platão: discípulo de Sócrates, e professor de Aristóteles, o grande trio da Grécia clássica. Sócrates, foi condenado pela democracia ateniense a beber o Schierlingsbecher. Para alguns, uma das autenticas causas - parece que têm um cunho pessoal, as "autenticas", as não pessoais são mais aparentes - porque Platão não figura entre os grandes apologistas da democracia.
Transição dos Deus:Ilha dos Abençoados, Campos Elisios:
Livro da Vida:Tema Blumenbergiano, aquilo que realmente dignificou a sua fama. Se a Vida é um Livro, é necessário aprender a sua linguagem, a sua sintaxe, a sua semântica e a sua etimologia, é a Legibilidade do Mundo. Por mais que houvesse um único exemplar do Livro do Mundo, por mais indubitável a sua credibilidade, são múltiplas, quiçá inúmeras, as suas possíveis leituras - o livro é completo no dualismo Livro/Leitor, não no monismo Livro/Escritor. E, porque essas possíveis leituras ocorrem em paralelo num mesmo espírito - como num romance policial em que o leitor joga múltiplas variações da motivação do assassino e da estratégia do comissário para antever o seu final - não é suficiente aprender uma gramática e um vocabulário, urge "sonhar" em metáforas para viver (que é um outro termo para o "conto" ou "narração" de Neil Postman). O trabalho do filósofo, curiosamente convertido em geólogo ou arquivista, consiste então na "metaforologia" (estudo das metáforas que como flechas atravessando um corpo se estendem pela historia da civilização).

Chronos e seus titãs

Zeus

Viagem pelo Hades

Ulisses

Epicuro e Montaigne

Goethe e Spinoza

Platão e Rousseau

Pascal e Schopenhauer.

Jardim-escola de Epicuro

Imperativo categórico de Kant:

Um agradecimento especial para as proposicöes da Isabel e da sua amiga Paula.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A prova derradeira do aquecimento do planeta


copyright: humour.com

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

reclame

todas as coisas teem a sua historia. Hoje pensa-se que até o Ser tem a sua historia, o seu conto ou a sua narracäo, como diria Neil Postman. Pensa-se que o Existir deriva de flutuacöes do Nada, do Vazio, das suas distorcöes, da sua tensäo, mais precisamente: das diferencas de tensäo na estrutura do Nada (um aparente contra-senso esta de "estrutura do Nada").
A historia, o conto deste site, remonta a um link, que refere a uma exclusäo (um acto de democracia duvidoso, mas em democracia - note-se bem que todo o acto de democracia duvidoso sucede em democracia, o regime autoritário näo conhece actos de democracia duvidosos, mas accöes ditatoriais certas; é um bom simptoma quando o cidadäo reclama de actos de democracia duvidosos), que remete a um texto, que remete a um roubo... Estas, insinuadas por técnicas de romance derivadas de Umberto Eco.
Averna é um digestivo italiano - que näo sei porquê mas para mim, é simbolo do estilo de vida estado-unidense, as figuras em A Streetcar Named Desire de Tennessee Williams (Terminal Destino? ou: Ultima Paragem Destino?) teriam que tomar Averna e näo Whisky - com um sabor e uma consistencia a xarope infantil contra a constipacäo que me davam na farmacia, o päo nosso de cada-dia nas pizzarias alemäs, mas desconhecido na Franca. Por razöes algo "caricatas" ganhou o concurso no casting ao reclame deste blog. Entre os ultimos candidatos: Taverna da Esquina, A Taverna da Esquina, Averna da Esquina T, Beco sem saída em Rammazzotti.
Como todos os bons digestivos, mostram o valor do seu efeito depois de uma valente comida, um exagero de alimentacäo, um atentado à saude - digamos que de isto, e da falta de Averna como antidoto, pereceram entre outros Friedrich Nietzsche, Michel Foucault, Jean Amery, Deleuze e o próprio Socrates. Talvez o näo exagero no peso, a figura esbelta, simbolo dos tempos modernos, seja simptomatico dessa falta de "saude". Há que ter um coracäo bem musculado e resistente em suficiencia para suportar a batida e a pulsacäo sanguinea em corpos obesos, mais ainda quando aquele reside num corpo de bailarino.

Carlos Aguilar
Münster, 25. 01.2008