quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

a invencäo do eu no amor enquanto paixäo

O amor romantico (o amor enquanto paixäo), aquele das cartas infinitas, dos telefonemas intermenináveis, dos  coracöes derretidos, é um fenónemo da época moderna, diz N. Luhmann.
"Näo é um sentimento, mas um código de comunicacäo, sob cujas regras podemos expressar sentimentos, construir, simular, suspeitar de outrem, negar(...), é um modelo de comportamento, que pode ser representado, que está à nossa vista, antes de embarcarmos partindo em busca do amor".
Amor enquanto paixäo é um "meio de comunicacäo simbolicamente generalizado", que torna provavel uma comunicacäo improvável.
Porquê "comunicacäo improvável"? Porque uma "autentica" comunicacäo é impossivel. O outrem para além do meu eu é infinitamente inacessivel, para além do meu Eu (que nem Freud, nem Marx, nem a mecanica quantica até hoje me conseguiram dizer quem ele é) Ding-an-Sich kantianos sem fim.
O amor enquanto paixao baixa o limiar do "autentico" nessa comunicacäo impossivel, permite uma simulacäo de "autenticidade", ou, nas palavras do proprio Luhmann "as pessoas reduzem o limiar de relevancia no relacionamento entre elas, com a consequencia de que aquilo que é relevante para um é quase sempre também relevante para o outro."
Porquê um "fenómeno da época moderna"  e näo uma constante da condicäo humana, ou uma constante da vida? Porque ali, na burguesia do seculo XVIII se alicerca a diferenciacäo funcional dos nossos dias, em que o individuo se encontra numa "policontexturalidade comunicativa" que dificulta a interacäo germinadora de identidade e inventa o recurso à intimidade, ao amor enquanto paixäo, "disposicöes semanticas que possibilitam apesar de tudo o sucesso de comunicacöes improváveis. 'Posibilitar o sucesso' significa: aumentar a susceptibilidade de comunicacäo de forma que se ousa a comunicacäo näo a abandonando à partida como ilusória".

Näo é o "sentimento" (que é subjectivo e instrasmissivel), mas o código de comunicacäo -o dispositivo semantico gerador de sentido - que é compreensivel, porque objectivavel e historicamente observavel (nas cartas de amor, na poesia, nas literaturas) que é o tema.
Amor enquanto paixäo, o amor dos nossos dias, é o amor passivo, do qual somos "vitimas", o qual näo podemos evitar. O (in-)dividuo que se descobre como ser divido em inumeros papéis, procura a sua identidade (como totalidade, como in-dividuo), cria o seu sentido, baixa o limiar de relevancia, e re-encontra-se, cria-se ou, mais nietzscheniano, inventa-se.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

teleologia..

tudo tem uma finalidade, dizia Aristoteles, e nominou-a Telos, a causa final (causa finalis). A finalidade de um rato é uma refeicäo nos dentes de um gatinho, e consta que a finalidade de um paio de Trás-Os-Montes reside numas Tripas à Ribeira.
Mrs. Goldstein was walking down the street with her two grand-children. A friend stopped to ask her how old they are. She replied: "The doctor is five, the lawyer ist seven."
Cathcart & Klein, Plato and a Platypus Walk into a Bar
A Sra. Manela ia descendo da Sé para a Ribeira com os seus dois netos. Uma amiga parou para perguntar a idade das criancas. Ela respondeu: "O doutor tem cinco, o advogado sete."