quarta-feira, 9 de julho de 2008

o numero de inimigos...

Li algures «molti nemici molto onore» (muitos inimigos, muita honra). É, exactamente como constava nesse tal algures - conferi isso numa página sobre Il Duce, Benito Mussolini - um lema fascista. Sem aspas (no algures, o senhor dizia que era "fascista" - com as aspas, claro). Bem, encontrei aí também uma "costela marxista" e umas reflexöes sobre consciencia de classe, etc., que foi precisamente com essa conjugacäo que engracou a minha curiosidade.
Diz Nietzsche em algum lugar que os inimigos dignificam, mas o lema fascista näo me soa nietzscheniano, muito pelo contrário, soa-me mesmo a fascismo (aqui também sem aspas) na sua pior denotacäo, como a descrita em 1900 do Bertolucci.
Tentando uma interpretacäo rápida: o lema de Mussolini foca a quantidade - há uma proporcionalidade directa entre o numero de inimigos e o o valor da honra, quantos mais inimigos mais digno o acto (de aqui o Bertolucci), é o crime pelo crime; o lema nitzscheniano foca a qualidade: näo é o numero de inimigos que é significante, näo é a quantidade, mas sim a qualidade que repercute sobre a dignificacäo. Há fulanos, e a grande maioria dos candidatos entram nesta categoria, que näo merecem ser meus inimigos. Há que merecer-se os seus inimigos também (e, desconfio que seja mais dificil merecer a inimizade de alguém que a sua amizade).
E há um farolito ali a chamar a minha atencäo para algo mais. No elan revolucionário, enquanto o movimento näo é ainda instituicäo, confunde-se com frequencia o numero de inimigos com a veemencia com que se abanica o estandarte da justica (Robespierre, Trotzky), teem sorte os conservadores.

Carlos Aguilar


o algures (MATERIAIS & LINKS ABANDONADOS):
http://estadocivil.blogspot.com/
http://www.ilduce.net/duce.htm

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