sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

on the road again...

Alguém me recordou que uma boa razäo para näo curtir o Natal é dada pela hipocrisia que se amontoa em redor dos dias 24/25 de Dezembro. Era o meu ponto de vista e, como alguma vez na vida optei pelo advocatus diaboli (ver as coisas do outro lado, é ver mais das coisas), pensei: e, se extendessemos (estender? extender?) essa hipocrisia a todos os outros dias do ano? Se todos os dias optássemos pelo "deixar para trás", optássemos pela decisäo de colocarmos uma máscara conciliadora em vez de rebater coisas desestruturadas (essa coisa de rebater muito uma questäo acaba por quebrar-lhe a estrutura, ficam questöes sem espinha dorsal, sem porquê - die Rose blüht und sie kennt kein Warum, em portugues: a rosa floresce porque näo tem porquê, recordou Borges - ... estou em recordacöes hoje, está visto).
Entre as muitas coisas da vida que näo teem porquê (digamos assim: se elas tivessem ou tiverem um porque convém a gente ocultá-lo e esquece-lo): o amor e a paixäo, a amizade - tem condicöes a amizade, näo sou amigo de näo importa quem, mas näo tem porquê - e a poesia, a vida.

P.S.
Poderia dedicar esta coisa a um colega e cyber-amigo meu (a propósito dedicar alguma coisa a alguém é compartilhar alguma coisa com alguém, que pode ser um sorriso ou uma lágrima). 

TOPOI:
Sarah Silverman: give the jew girl toys
On the road again:
Robert Putnam: Bowling Alone
George Santayana: "Those who cannot remember the past are condemned to repeat it."

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As lágrimas do Jesse Jackson

Se passasse revista na eleicäo do nosso presidente para selecionar a imagem mais comovente, näo necessitaria um minuto: o rosto  repleto de lágrimas de Jesse Jackson numa praca publica  em Chicago ao escutar ao vivo o discurso de vitória de Barack Obama.

Posteriormente Jackson evocou o semblante "majestoso" de Obama e a "memória de todos aqueles mártires e assassinados, cujo sangue corrido possibilitou esta noite" como causa da sua perca de contenance.

Para recordar: Jesse Jackson näo é simplesmente o reverendo de uma igreja baptista, o qual conseguiu canditar-se à presidencia nos EU (mais correctamente: canditado à candidatura presidencial). Jesse Jackson é também o homem que estava ao lado de Martin Luther King no balcäo de um hotel em Memphis, quando soaram os disparos mortais sobre o activista dos direitos civis.

Num olho säo as lágrimas muito pessoais que ali häo corrido. No outro contudo, e no fundo é isto que a todos nos toca, säo as lágrimas do mundo que antevemos ali. Säo certamente também lágrimas de regojizo, do há muito desejado e finalmente alcancado, do sonho que se reverteu em realidade (originariamente estava aqui "infinitamente desejado", querendo insinuar que este pensamento do sonho se situara numa eternidade remota, mas quando penso que Obama é actualmente o unico senador negro, e quando penso que ele é o quinto senador negro em toda a historia do senado americano e quando por ultimo recordo que o primeiro negro no Senado dos Estados Unidos assumiu o cargo em 1870...).

Säo também e sobre tudo lágrimas de medo e de tristeza. O sonho que se reverteu em realidade é o sonho que näo pode mais ser sonhado, é o sonho perdido. E - cacete, juro que näo sou pessimista - com Obama perdemos um dos nossos ultimos sonhos, que alguém venha de algures, para mais com o nimbus daquele que foi durante longos tempos rodeado de preconceitos, e nos salve.

„We will get there“ (chegaremos lá) afirmou Obama no seu discurso vitorioso. „We will get there“, disse MLK no seu ultimo discurso publico. „We will get there“, ouvimos originariamente de Moisés ao entrever a terra prometida.

A filosofia moderna ensina-nos a ser cautelosos com estas promessas. Com demasiada frequencia cristalizam-se nelas os sonhos de toda uma geracäo, de toda uma etnia, de toda a humanidade. Os cesáres romanos näo como despotas de um imenso império mas como vitimas da irrealizabilidade de uma projecäo generalizada (säo estas projecöes generalizadas a origem da fobia das massas de muitos ex-intelectuais iluminados, como Borges, Dos Passos & Co?). Com muitissima probalidade näo existem estas Ilhas dos Abencoados, mais ainda, a sua realidade é inimaginável, se elas existissem näo seriam aquilo, que ela säo. Nunca alcancaremos o seu acolho, mas näo deveriamos jamais cessar de procurá-las.

Näo chegaremos a lugar nenhum, porque näo temos uma meta, ou, em outras palavras: o caminho é a meta. Mas teremos que caminhar e o caminho, que o resultado desta eleicäo nos abre, é mais agradável que os caminhos anteriores. Abraham Lincoln afirmou algum dia: "Quem näo tem uma meta na vida despista-se". É importante saber que estas metas näo säo transmitidas por um deus, mas feitas pelos humanos. É importante saber que cada um se coloca as sua propria meta e percorre o seu caminho. A anunciacäo do "we will get there" tem que ser revertida em cunho pessoal: "You will get there", o que é uma mentira, mas, chega-se mais longe quando a seguimos. 

TOPOI

Robert de Niro: esta inexperiencia...

Sarah Silverman: Barack in hebrew means lightening

Honest Abe: Quem näo tem uma meta na vida, despista-se

Der Spiegel: „Já há muito tempo que o mundo näo tinnha uma tal superficie de projecäo"

Barack Obama:  if there is anybody out there, who still doubts...

Barack Obama: It´s been a long time coming, ... but tonight change has come to America.

Barack Obama: And to all those watching tonight from beyond our shores... our stories are singular, but our destiny is shared...

US – Senat: até hoje 5 senadores afro-americanos

Jesse Jackson:

LINKS:

http://en.wikipedia.org/wiki/African_Americans_in_the_United_States_Congress

http://elections.nytimes.com/2008/results/president/speeches/obama-victory-speech.html


P.S. (personal somehow)

Uma imensa gratidäo para a Cristina, que originou esta traducäo e me custou uma hora de sono.