segunda-feira, 14 de abril de 2008

do masculinismo em prol da heterofilia

Li algures da existencia dum colectivo feminista agrupando homens e mulheres no intento de combater o sexismo e a homofobia e trazer o feminismo para a rua.
Confesso a subita perplexidade: havia rato por ali. É que feminismo para mim é, trinta anos depois, o facto de umas tantas fulanas me terem expulsado de uma livraria nos finais dos 70, na qual eu havia entrado para em acto de insubmissäo protestar contra um anuncio colocado na vitrine em enormissimas letras vermelhas "INTERDITO O ACESSO A HOMENS!"
Acabei por acatar a ordem, com o covarde sentimento de uma das mais amargas derrotas na minha vida, daquelas que um perde, sabendo que näo havia tido a insinuacäo de uma chance de ganha-la, mais: de luta-la sequer.
Bem, aprenderam algo os meus companheiros de sexo, näo entram mais em livrarias feministas com letras vermelhas nas vitrines: convidam as raparigas a vir para a rua celebrar em conjunto a luta contra o sexismo e a homofobia. Gostaria de ter sabido, se é um grupo de homens com algumas mulheres pelo meio, ou um agrupamento de senhoras com alguns fulanos infiltrados. Creio no entanto que a criacäo de tal colectivo, o terem-se dado um estatuto e oficializado e celebrado a sua existencia, manifesta exagero no consumo de alguma coisa. É que, ou pelo sexismo ou pela homofobia: ou o sexismo é hetero-fobico (fazendo uma leitura negativa do mesmo) ou homo-fil (numa leitura positiva).
Complica-se a questäo se agregarmos uma lesbiana, um veado e um travesti à tal comitiva feminista! A lesbiana que assobia ao balancar sensual de uma super-mulata é que? Homo-fil e logo näo sexista?, ou hetero-fobica e sexista? E o veado que dirige um piropo a algém do sexo oposto é que? Masoquista? Deixemos o travesti de lado, para näo alargar a questäo em demasia.
No campo do amor, e sejamos sinceros, o sexismo é uma forma de amor, näo há espaco para clarezas: vive-se de insinuacöes, de gestos mal-entendidos, de toques intencionados pelos quais se pede desculpa, etc. e tal - é o campo da proto-linguagem (uma linguagem sem dicionário e sem denotacöes precisas, em que as conjuncöes dos morfemas utilizados conteem multiplos sentidos, podendo ser lidas assim ou assado). Eliminar o sexismo seria interdir o amor.
Peca o colectivo pelo exagero de condimentos, estragou-se a sopa por um abuso. Que se reunam homens e mulheres em montäo e fundem alguma coisa parece-me estupendo, que se embriaguem, facam festa e tenham ou näo tenham filhos, melhor ainda. Agora, que se acabe com o sexismo, se proiba a hetero- ou a homo-filia, näo é mais do meu agrado.
"La femme est l´avenir de l´homme" (a mulher é o futuro do homem), dizia Aragon. Näo disse: la femme et l´homme sont l´avenir de l´homme, nem täo pouco pretendeu superar a dicotomia querendo ir para o além do mulher/homem - pressentiu que havia rato por ali o Aragon também, optou pela confusäo que culminou em clareza: La femme est l´avenir de l´homme!

P.S.
Pergunta-me a minha prima como eu denominaria entäo aquele tipo atrevido que na quinta-feira passada na paragem do electrico lhe propos assim sem mais nem menos: "ó filha!, tás boa como o milho! Tens compromisso já na tua cama?"
Bem, eu acho que para isso a linguagem tem os seus termos apropriados, bem claros e precisos, como "estupido" (chamaram-me esta coisa ainda hoje, embora num outro contexto, assim como resposta imediata a um "mula com cornitos"), "tonto" ou, mais erudito "macho patologicamente pre-conceituado sem ajuda profissional" (convem umas licöes de kick-box prévias antes de optar pela ultima variante).

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